Olhar e escutar. Música. Cinema. E os espaços em volta.
quarta-feira, outubro 21, 2009
A vida é feita de pequenos nadas
É sem dúvida um dos mais belos filmes do ano. De Hirokazu Koreeda já conhecíamos o assombroso Ninguém Sabe. Em exibição entre nós está agora Andando. Estamos novamente em ambiente familiar, mas desta vez sob outras coordenadas. Com a acção descrevendo um arco de 24 horas, o filme segue o dia em que uma família se reúne para assinalar o 12º aniversário da morte do filho mais velho, Junpei. Os filhos Ryota e Chinami e as respectivas famílias juntam-se na casa dos pais, algures longe do centro de uma grande cidade, para um dia que vive de memórias (muitas delas contadas à mesa), umas feitas mais de palavras, outras vivendo entre os silêncios. O presente é o instante onde convergem assim histórias passadas, mas também ponto de partida para futuros que se lançam entre perguntas, dúvidas e sonhos. Entre sushi, tempura de milho e cervejas, Andando é um grande monumento de cinema feito da soma daqueles pequenos nadas que fazem o quotidiano de qualquer vida em família.
Imagens do trailer de Andando.
É impossível passar por Andando sem evocar um outro filme que parece fazer inevitável parte das heranças na base do código genético deste cinema. Trata-se do maravilhoso Tokyo Story (1953) de Ozu, outra história feita da soma dos pequenos nadas de uma vida em família. Os ingredientes narrativos são diferentes, mas os pequenos rituais da vida familiar, a passagem de histórias entre gerações e a forma como muitos dos factos centrais à narrativa acontecem fora do ecrã, referidos depois entre diálogos, juntam pistas que traçam assim inevitáveis afinidades entre ambos os filmes.