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Quando vemos ou revemos Gimme Shelter, é inevitável interrogarmo-nos sobre as razões que fazem com que um filme tão admirável, tão cinematograficamente poderoso, seja quase sempre reduzido a uma referência apenas curiosa na história das relações do documentarismo com a música e, em particular, com o rock dos anos 60/70. Há uma explicação simples para tal “esquecimento”: Gimme Shelter foi lançado em finais de 1970, poucos meses depois de Woodstock, o filme de Michael Wadleigh que rapidamente adquiriu um estatuto lendário.
Mesmo não contestando o valor de Woodstock (bem pelo contrário), importa sublinhar que as singularidades de Gimme Shelter começam na sua resistência a qualquer discurso lendário ou tendencialmente mitológico. Os irmãos Albert e David Maysles, neste caso assinando a realização com Charlotte Zwerin, nunca foram defensores da opção (televisiva) que consiste em colar de forma mais ou menos arbitrária os registos de “reportagem” com algumas entrevistas. Inseridos no Cinema Directo da época (e nas transformações da “nova vaga” da costa leste dos EUA), os Maysles praticaram um cinema de absoluta paixão pelos factos vividos, resistindo a todas as formas de determinismo narrativo ou simbólico.
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