O lançamento de Andando, de Hirokazu Kore-eda faz-nos reavaliar o nosso (des)conhecimento da produção cinematográfica japonesa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 de Outubro), com o título 'Você disse Oshima?'.
A estreia excepcional de Andando, fabuloso filme do japonês Hirokazu Kore-eda, é reveladora do modo como, apesar da diversificação da oferta, deixámos de ter uma relação consistente com o cinema exterior ao espaço anglo-saxónico. Do Japão, por exemplo.
Entendam-me: o actual cinema americano (dos grandes estúdios ou independente) está cheio de coisas fascinantes. O certo é que isso não nos impede de lembrar fenómenos como a descoberta em Portugal dos filmes de um japonês como Nagisa Oshima. O impacto social e cultural de títulos como O Enforcamento, Cerimónia Solene ou O Império dos Sentidos (antes e depois de 1974) corresponde a um estado de coisas cuja repetição, hoje em dia, não conseguimos sequer imaginar. E nem tudo se consegue explicar pelas diferenças geracionais ou pela proliferação do DVD. Em boa verdade, a relação dos espectadores com os filmes era muito menos acidental e acelerada do que agora o mercado impõe: esta semana [dia 8] estreiam nove títulos e, provavelmente, para a semana quatro ou cinco deles já não estarão em exibição...