No seu "esmiuçar" do momento político, o Gato Fedorento deu um bom exemplo do que pode ser uma televisão com saudável espírito (auto)crítico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (2 de Outubro), com o título 'Esmiuçando os ecrãs'.
1. Na noite de sábado para domingo, em Navegadores.pt (RTPN), Carlos Daniel conversou com Robert Leal, tomando como ponto de partida o seu recente disco Raiz. Foi uma conversa solta e contrastada que teve um mérito fundamental: o de contribuir para fazer escapar o próprio entrevistado aos clichés que qualquer imagem pública tende a favorecer (e até reforçar). Foi bom encontrar um programa que, para além de gostos ou sensibilidades, se recusou a favorecer qualquer dicotomia bélica, fosse ela musical, cultural ou moral. Cada vez que a televisão nos mostra que nenhum preconceito é produtor de conhecimento, todos ganhamos.
2. Na segunda-feira, tivemos O Gato Fedorento Esmiúça os Escrutínios (SIC), desta vez com António Vitorino como convidado [ERRATA: o título exacto desta emissão especial era O Gato Fedorento Escrutina os Escrutínios]. Na primeira parte, o programa dedicou-se a um exercício metódico e, afinal, muito pedagógico sobre a noite das eleições legislativas. Ricardo Araújo Pereira, José Diogo Quintela, Miguel Góis e Tiago Dores passaram pela ostentação da tecnologia, pela retórica dos discursos políticos, até mesmo pelas célebres motas que seguem, avidamente, qualquer coisa que tenha quatro rodas e um político lá dentro... Em boa verdade, conseguiram alguns momentos brilhantes de genuína crítica de televisão. Porquê? Porque nos fizeram perceber que, em televisão, a espontaneidade é uma ilusão, eventualmente uma impostura: tudo é linguagem, tudo implica encenação, tudo decorre de escolhas discursivas, estéticas e éticas. Foram momentos preciosos em que a televisão se pôde contemplar no seu próprio espelho.
3. A 15ª e última temporada de ER/Serviço de Urgência (a passar nas noites de segunda-feira, na RTP2), contém algumas revisitações do passado, por exemplo através do retorno de George Clooney. O episódio desta semana foi notável, destacando-se o caso de uma avó, interpretada por Susan Sarandon, que resiste a aceitar a morte do neto, protelando a decisão de doar os seus órgãos para transplantes. Foram momentos de grande televisão, não por acaso integrando actores e mecanismos ficcionais com profundas raízes no cinema.
1. Na noite de sábado para domingo, em Navegadores.pt (RTPN), Carlos Daniel conversou com Robert Leal, tomando como ponto de partida o seu recente disco Raiz. Foi uma conversa solta e contrastada que teve um mérito fundamental: o de contribuir para fazer escapar o próprio entrevistado aos clichés que qualquer imagem pública tende a favorecer (e até reforçar). Foi bom encontrar um programa que, para além de gostos ou sensibilidades, se recusou a favorecer qualquer dicotomia bélica, fosse ela musical, cultural ou moral. Cada vez que a televisão nos mostra que nenhum preconceito é produtor de conhecimento, todos ganhamos.
2. Na segunda-feira, tivemos O Gato Fedorento Esmiúça os Escrutínios (SIC), desta vez com António Vitorino como convidado [ERRATA: o título exacto desta emissão especial era O Gato Fedorento Escrutina os Escrutínios]. Na primeira parte, o programa dedicou-se a um exercício metódico e, afinal, muito pedagógico sobre a noite das eleições legislativas. Ricardo Araújo Pereira, José Diogo Quintela, Miguel Góis e Tiago Dores passaram pela ostentação da tecnologia, pela retórica dos discursos políticos, até mesmo pelas célebres motas que seguem, avidamente, qualquer coisa que tenha quatro rodas e um político lá dentro... Em boa verdade, conseguiram alguns momentos brilhantes de genuína crítica de televisão. Porquê? Porque nos fizeram perceber que, em televisão, a espontaneidade é uma ilusão, eventualmente uma impostura: tudo é linguagem, tudo implica encenação, tudo decorre de escolhas discursivas, estéticas e éticas. Foram momentos preciosos em que a televisão se pôde contemplar no seu próprio espelho.
3. A 15ª e última temporada de ER/Serviço de Urgência (a passar nas noites de segunda-feira, na RTP2), contém algumas revisitações do passado, por exemplo através do retorno de George Clooney. O episódio desta semana foi notável, destacando-se o caso de uma avó, interpretada por Susan Sarandon, que resiste a aceitar a morte do neto, protelando a decisão de doar os seus órgãos para transplantes. Foram momentos de grande televisão, não por acaso integrando actores e mecanismos ficcionais com profundas raízes no cinema.