O nome de Nino Rota (1911-1979) é habitualmente associado ao cinema de, entre outros, Visconti, Fellini, Zefirelli, Coppola. Porém, a sua obra transcendeu o trabalho que manteve, a partir dos anos 30, com inúmeros realizadores, assinando uma série de bandas sonoras que hoje são absoluta referência do género. A sua obra para a sala de concerto não é menos interessante. E nos últimos tempos tem-nos sido revelada através de uma série de edições da Chandos.
Nascido em Milão em 1911, começou a estudar com Giacomo Orefice e Idelbrando Pizzetti, este último um dos elementos do chamado ‘gruppo dell’ottanta’, um conjunto de compositores que acabaram relacionados pelo facto de terem nascido na década de 80 do século XIX. Estes primeiros contactos criaram um interesse por uma música com marcas claramente italianas, que tomou como ponto de partida para a construção da sua identidade. No início dos anos 30 viajou, apoiado por uma bolsa de estudos, até aos EUA. Estudou em Filadélfia, e nos fins de semana visitava o apartamento de Arturo Toscanini, em Nova Iorque, onde então conheceu compositores como Aaron Copland, Samuel Barber ou Vaughan Williams, este último acabando por representar outra das suas grandes referências formativas, o seu paisagismo muitas vezes reflectido não apenas na música para cinema, mas também na obra sinfónica…
E é a obra sinfónica de Nino Rota que encontramos na mais recente edição de gravações da sua música no catálogo da Chandos. Gravadas pela Filarmonica ‘900 del Teatro Regio di Torino, sob direcção de Marzio Conti, as sinfonias números 1 e 2 de Nino Rota representam uma verdadeira surpresa para as quem não conhece. Apesar de admirador dos movimentos que ganhavam forma no seu tempo (nomeadamente em Vieena), Nino Rota manteve-se fiel a ecos de um romantismo que levou a muito do seu trabalho para cinema, não sentido nunca a necessidade de mudar de rumo na hora de compor para a sala de concerto. O disco agora editado traz-nos dois exemplos, com raízes nos anos 30. A Sinfonia Nº 1, composta entre 1935 e 39), foi estreada 1940. Com características descritivas, a sinfonia adopta uma estrutura próxima da que conhecemos na obra sinfónica de Brahms. O segundo andamento parece desenhar uma visão assombrada de uma guerra mundial que se adivinhava, segundo um registo que evoca Vaughan Williams. Já a Sinfonia Nº 2 (composta em 1939 mas apenas estreada em 1975), abre com uma atmosfera claramente mahleriana, entrando em cena algumas marcas de identidade italiana no segundo andamento, reencontrando-se novamente o estilo influenciado por Vaughan Williams mais adiante. Esta segunda sinfonia é uma obra magnífica, parecendo traçar pontes entre o velho e novo mundo que Nino Rota então já conhecia depois da sua primeira viagem à América, alguns anos antes.