domingo, outubro 04, 2009

O passado segundo Guillermo Arriaga

The Burning Plain/Longe da Terra Queimada é um filme em que, literalmente, o passado segue as personagens. E não apenas persegue — segue, no sentido em que somos feitos daquilo que fazemos e de tudo aquilo que, ao fazermos, transportamos connosco.
Na sua estreia como realizador, o mexicano Guillermo Arriaga retoma, assim, um modelo de ficção fragmentada e fragmentária, diversas vezes experimentado enquanto argumentista de filmes de Alejandro González Iñárritu (21 Gramas, de 2003, poderá servir de modelo exemplar). Os resultados são tanto mais envolventes quanto Arriaga opta por uma mise en scène minimalista que, sabendo valorizar o trabalho dos actores — Charlize Theron [na foto], Kim Basinger, Joaquim de Almeida, etc. —, sabe também instalar um mistério que não se esgota na sua dimensão "policial". No fundo, sentimos que a história de cada um está sempre a ser vivida na história de outro(s). Este é, por isso, um filme sobre o modo como pertencemos a lugares, pessoas, sentimentos e silêncios — mesmo quando não sabemos. Um filme sobre aquilo que Goethe chamava, não o viver "com alguém", mas viver em alguém.