No panorama do actual cinema americano, Steven Soderbergh continua a ser um criador multifacetado e surpreendente — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 de Outubro), com o título 'Soderbergh encena a comédia humana'.
Já há muito tempo que não víamos uma comédia como O Delator! (título original: The Informant!), novo filme com assinatura de Steven Soderbergh. Desde logo, pelo delírio dos factos (verídicos!) em que se baseia, contando a história de Mark Whitacre (Matt Damon), um gestor que, nos anos 90, ajudou o FBI a investigar as práticas ilegais da sua própria empresa, ao mesmo tempo que ia desviando avultadas somas de dinheiro (mais de 9 milhões de dólares) para as suas contas pessoais. Depois, porque Soderbergh é um cineasta dos limites do humano, sabendo tratar o caso de Whitacre como um desafio a todas as formas de estabilidade (profissional, familiar, emocional) com que tentamos definir a “normalidade” do nosso viver.
É um filme de desconcertante amargura existencial, porque vai sendo invadido por um negrume que nunca é estranho às marcas de um humor insólito e devastador. É também a prova real da sofisticada versatilidade de Soderbergh, que no ano passado nos surpreendera com o fabuloso Che. Além do mais, num mundo perfeito a interpretação de Matt Damon deveria valer-lhe um Oscar “obrigatório”. Mas como Whitacre descobre, a perfeição não é deste mundo...
Já há muito tempo que não víamos uma comédia como O Delator! (título original: The Informant!), novo filme com assinatura de Steven Soderbergh. Desde logo, pelo delírio dos factos (verídicos!) em que se baseia, contando a história de Mark Whitacre (Matt Damon), um gestor que, nos anos 90, ajudou o FBI a investigar as práticas ilegais da sua própria empresa, ao mesmo tempo que ia desviando avultadas somas de dinheiro (mais de 9 milhões de dólares) para as suas contas pessoais. Depois, porque Soderbergh é um cineasta dos limites do humano, sabendo tratar o caso de Whitacre como um desafio a todas as formas de estabilidade (profissional, familiar, emocional) com que tentamos definir a “normalidade” do nosso viver.
É um filme de desconcertante amargura existencial, porque vai sendo invadido por um negrume que nunca é estranho às marcas de um humor insólito e devastador. É também a prova real da sofisticada versatilidade de Soderbergh, que no ano passado nos surpreendera com o fabuloso Che. Além do mais, num mundo perfeito a interpretação de Matt Damon deveria valer-lhe um Oscar “obrigatório”. Mas como Whitacre descobre, a perfeição não é deste mundo...