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Quando descobrimos telediscos dos Police, George Michael ou Pet Shop Boys a serem evocados de forma mais ou menos “nostálgica” em canais como o VH1, percebemos que a cultura audiovisual dominante conseguiu impor calendários cada vez mais curtos para o “envelhecimento” público. Em boa verdade, o fenómeno não se explica apenas pela natural alternância de gerações, com todas as suas diferenças de sensibilidade e percepção do mundo. Nem se trata de um episódio isolado do VH1, afinal de contas um dos espaços mais abertos e diversificados nesta área. A questão é outra: em termos especificamente televisivos, tudo passa pela progressiva e trágica decomposição dos conceitos criativos (e de difusão) que, em 1981, deram origem à MTV.
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Nada disto está a ser “compensado” por programas propostos pelos canais generalistas, também eles enredados nas rotinas do modelo “Top +”: a preguiçosa colagem aos movimentos mais óbvios do mercado faz com que o imenso espaço dos telediscos, sendo um dos mais abertos à experimentação e à pluralidade, seja também um dos mais afogados pelas leis dominantes da difusão audiovisual. Dir-se-ia que a MTV não tem sabido envelhecer... O que nos conduz à incontornável pergunta: será possível envelhecer tanto em menos de três décadas? Pelos vistos, o feitiço virou-se contra o feiticeiro.