Il Divo, de Paolo Sorrentino, é um retrato de Giulio Andreotti, traçando um quadro negro, fantasmático, dos bastidores da política italiana. É pena que o filme confunda a caricatura fácil com a desmontagem das estruturas de poder. Seja como for, podemos detectar nele a herança de um estilo, ou melhor, de uma atitude de observação crítica que marca momentos exemplares do cinema de Itália — este texto foi publicado no Diário de Notícias (12 de Outubro), com o título 'Cinema e política à italiana'.
Foi em 1963 que Luchino Visconti assinou a sua obra-prima O Leopardo, segundo o romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Estava-se em plena euforia das “novas vagas” cinematográficas de muitas origens, mas Visconti, com uma ironia que ele próprio não terá menosprezado, fazia o mais clássico dos filmes políticos. Dito de outro modo: há no cinema italiano uma paixão pelas convulsões políticas que transcende épocas, estilos, movimentos ou tendências.
Na Europa pós-Maio 68, os italianos foram, precisamente, dos que mais contribuíram para a afirmação de um modelo efémero que, de modo mais ou menos equívoco, recebeu a designação de filme político (na altura, convém lembrar, esse era um rótulo com peso comercial tão marcante quanto a “comédia” ou o “terror”). Entre os exemplos possíveis estão títulos tão diferentes como O Conformista (1970), de Bernardo Bertolucci, tendo como pano de fundo a ascensão das forças fascistas antes da Segunda Guerra Mundial, Em Nome do Povo Italiano (1971), de Dino Risi, desmontando os bastidores dos tribunais, e O Caso Mattei (1972), de Francesco Rosi, sobre uma figura marcante do Estado italiano do pós-guerra.
Ao retratar Giulio Andreotti, em Il Divo, Paolo Sorrentino assume-se como herdeiro directo dessa tradição plural. É pena que o faça de forma tão simplista, em tom de caricatura moralista. Seja como for, a mera existência de Il Divo mostra que as relações entre cinema italiano e política estão longe de se terem esgotado. Aliás, recuemos a 2006 e lembremos esse fabuloso filme que é O Caimão: encenando a personagem de Silvio Berlusconi, o realizador Nanni Moretti mostrava, afinal, que a política é uma teia de verdade e ficção, comédia e drama, ópera e tragédia.
Foi em 1963 que Luchino Visconti assinou a sua obra-prima O Leopardo, segundo o romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Estava-se em plena euforia das “novas vagas” cinematográficas de muitas origens, mas Visconti, com uma ironia que ele próprio não terá menosprezado, fazia o mais clássico dos filmes políticos. Dito de outro modo: há no cinema italiano uma paixão pelas convulsões políticas que transcende épocas, estilos, movimentos ou tendências.
Na Europa pós-Maio 68, os italianos foram, precisamente, dos que mais contribuíram para a afirmação de um modelo efémero que, de modo mais ou menos equívoco, recebeu a designação de filme político (na altura, convém lembrar, esse era um rótulo com peso comercial tão marcante quanto a “comédia” ou o “terror”). Entre os exemplos possíveis estão títulos tão diferentes como O Conformista (1970), de Bernardo Bertolucci, tendo como pano de fundo a ascensão das forças fascistas antes da Segunda Guerra Mundial, Em Nome do Povo Italiano (1971), de Dino Risi, desmontando os bastidores dos tribunais, e O Caso Mattei (1972), de Francesco Rosi, sobre uma figura marcante do Estado italiano do pós-guerra.
Ao retratar Giulio Andreotti, em Il Divo, Paolo Sorrentino assume-se como herdeiro directo dessa tradição plural. É pena que o faça de forma tão simplista, em tom de caricatura moralista. Seja como for, a mera existência de Il Divo mostra que as relações entre cinema italiano e política estão longe de se terem esgotado. Aliás, recuemos a 2006 e lembremos esse fabuloso filme que é O Caimão: encenando a personagem de Silvio Berlusconi, o realizador Nanni Moretti mostrava, afinal, que a política é uma teia de verdade e ficção, comédia e drama, ópera e tragédia.
>>> Cinema italiano no site da RAI.