Gripe A? Eis uma declaração que está nas notícias de hoje: "Há claramente um excesso de alarme, de zelo; não passa de uma gripe, uma doença banal, pouco letal". E não foi um curioso, muito menos um irresponsável, que a proferiu. São palavras de Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, que acrescentou: "O melhor contributo da Ordem dos Médicos é chamar a atenção dos médicos e, através deles, das pessoas, de que isto é uma doença banalíssima e que não é preciso andarmos todos assustados".
Perante palavras tão contundentes e tão distantes do que é corrente dizer-se, esperava-se, talvez, que este fosse o grande destaque do dia nas televisões... Não aconteceu. E compreende-se porquê? A lógica informativa dominante precisa de proclamar o medo, sugerir o pânico, ansiar pela catástrofe. Que um cidadão (médico, mas isso é um pormenor) venha contrariar a ideologia alarmista em que vivemos, eis o que não fica bem na televisão.
Escusado será dizer que ninguém está a tentar favorecer uma atitude irresponsável face a uma doença que, pelas suas características, pode e deve ser enfrentada de modo firme e sistemático. Em todo o caso, há uma diferença significativa entre a defesa da responsabilidade social de todos os elementos da comunidade e a promoção obscena do apocalipse diário como um modo de fazer "jornalismo". As palavras de Pedro Nunes [foto] mostram, pelo menos, que ainda há quem tenha a serenidade de falar contra o lugar-comum, sem receio de se transformar em persona non grata nos telejornais. Aliás, no dia de hoje, mais importante era escutar as ponderadas palavras de Luís Filipe Scolari sobre o futuro da selecção portuguesa de futebol... Temos, afinal, as viroses que merecemos.
>>> Site informativo sobre a Gripe A.