Porque se fazem remakes? E a partir de que estratégias comerciais e artísticas? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (1 de Outubro), com o título 'Os valores do marketing contra a criação artística'.
Kevin Tancharoen, o realizador da nova versão de Fama, é um talento multifacetado das artes de encenação e coreografia, com ligações regulares ao espaço da MTV. Entre as muitas proezas que o seu curriculum regista, incluem-se o teledisco de Me Against the Music, com Britney Spears e Madonna, e o espectáculo de celebração dos 45 anos de Michael Jackson, ambos de 2003. Não admira, por isso, que os melhores momentos de Fama resultem de verdadeiros números de palco, interpretados por alguns jovens actores (Kay Panabaker, Naturi Naughton, Asher Book, etc.) que, tal como as personagens do filme, têm argumentos para se transformarem em casos muito sérios do entertainment.
Paradoxalmente, tais qualidades de espectáculo não chegam para sustentar o filme para além da condição algo conformada de “homenagem” ao original de Alan Parker (lançado em 1980). Isto porque deparamos aqui com um claro sintoma de uma das “doenças” narrativas do actual cinema americano: a possibilidade de fazer um remake é encarada, não como uma tarefa de reinvenção artística, antes como uma hipótese de relançamento de uma marca cuja eficácia comercial, de facto, não é possível transferir, automaticamente, de um contexto para outro. Além do mais, os retratos psicológicos das personagens, alunos e professores, são de um patético simplismo. O problema não é que não haja talento(s) envolvido(s) num projecto como Fama: é antes o de acabarmos por sentir que a sua gestação dependeu, sobretudo, de um conceito cego de marketing.