
PERSONA (1966), de Ingmar Bergman
Dois filmes portugueses — O Sangue e Entre os Dedos — chegaram aos circuitos do DVD (o primeiro depois de ter sido reposto em sala). Ou como importa rever e revalorizar as imagens a preto e branco — este texto foi publicado no Diário de Notícias (4 de Outubro), com o título 'Para (re)ver o mundo a preto e branco'.
Foi relançado, em cópia restaurada e em DVD, o primeiro filme de Pedro Costa, O Sangue (1989). Trata-se de um acontecimento raro — a reposição de um filme, para mais português — que inaugura um ciclo de redescoberta de um fascinante universo criativo, a desembocar na estreia de Ne Change Rien (5 de Novembro), o mais recente trabalho de Pedro Costa, centrado nas canções de Jeanne Balibar.
Por feliz coincidência, acaba de ser lançada a edição em DVD de Entre os Dedos, de Tiago Guedes e Frederico Serra, título também português que, embora através de outros pressupostos narrativos, nos confronta com uma questão presente nos filmes de Pedro Costa e, em boa verdade, em muito cinema contemporâneo avesso aos formatos de raiz televisiva. Ou seja: trata-se de reavaliar as fronteiras clássicas entre “ficção” e “documentário”, nomeadamente na abordagem do quotidiano mais rotineiro, todos os dias “ocupado” pelas telenovelas através de muitos clichés dramáticos, morais e sexuais.

Escusado será lembrar que este preconceito contra o preto e branco só pode reforçar algumas formas brutais de ignorância. Seria como se defendêssemos a indiferença face aos romances de William Faulkner ou Eça de Queiroz porque os seus autores não escreveram em computador... De facto, uns bons 50 por cento da história do cinema foram produzidos em películas a preto e branco e só por triste insensibilidade histórica e estética se pode pensar que Nosferatu (1922), Casablanca (1942) ou Persona (1966) são filmes a ter em conta “apesar” de serem fotografados a preto e branco.
