quarta-feira, setembro 30, 2009

Visões do apocalipse

Alex Proyas assinou um dos melhores filmes de ficção científica dos anos 90 com o sombrio Dark City (1998). Antes tinha já apresentado The Crow (1994), regressando ao género em 2004 em I Robot (com a escrita de Asimov como ponto de partida). Pelo caminho este realizador australiano, que tem carreira igualmente feita na realização de telediscos, apresentou Garage Days, narrativa em volta de uma banda de rock’n’roll, em 2002. Em 2009, regressou ao cinema de ficção científica com Sinais do Futuro (Knowing, no original), talvez um dos filmes mais sovados do ano. Mas que, na verdade, nem é assim tão mauzinho (nem nada do outro mundo, também)...
 
O filme assenta numa (mais uma, é verdade) transposição das escritas sobre o apocalipse a um cenário que é o do nosso tempo, com rotinas do quotidiano pelo meio. Em traços largos, a história apresenta-nos primeiro uma jovem estudante que, em 1959, desafiada a desenhar o futuro daí a 50 anos, não faz mais que uma página cheia de números. Guardados durante 50 anos, os desenhos dos colegas e estes números são reencontrados em 2009. O papelito com os números cai na mão do filho de um astrofísico do MIT (Nicholas Cage). Este, descobrindo o seu sentido, neles encontra as datas, locais e número de vítimas dos grandes acidentes dos últimos 50 anos. Repara que faltam três datas nos dias que se seguem, uma das quais anuncia o que interpreta ser o fim do mundo…
Com temperos característicos do thriller, a narrativa evolui com desvios inesperados, revelando personagens misteriosas, com pitada de algo assustador, que só a sequência final vai desvendar. Na medula da história corre um debate (mais um, é verdade) sobre a oposição entre a fé e a razão. O astrofísico acreditando numa existência que resulta do acaso químico. O seu pai, um reverendo, aceitando uma ordem maior acima de tudo. A história segue num caminho que conduz o homem de ciência no sentido de debater as suas próprias verdades. O desfecho estará contudo longe de consensual, pecando talvez por saltar para o patamar da alegoria quando, até aí, a relação entre os ecos das escritas apocalípticas, os medos do Homem e uma história que se tenta alicerçar num mundo real haviam assegurado uma narrativa com relativa solidez (no quadro das linguagens da ficção científica, entenda-se).