
A campanha é insustentável e, mais do que isso, errada, desde logo no plano da mais básica informação sobre a sida. Como podemos verificar pelas notícias [links acima], algumas organizações humanitárias já apontaram duas limitações óbvias: o reforço dos estigmas em torno dos infectados com VIH (apresentados, não apenas como globalmente irresponsáveis, mas equivalentes a ditadores sanguinários), e ainda a absoluta ausência de qualquer mensagem de prevenção, nomeadamente em relação ao uso de preservativos.
Mas há uma dimensão complementar que, por mais incómoda que possa ser, importa não escamotear. Para além das "boas intenções" que se possam invocar (sempre escassas para avaliar fenómenos de linguagem nas sociedades de informação instantânea), esta campanha é um sintoma muito directo, e também muito perturbante, da ideologia de uma certa tecnocracia da publicidade. É uma ideologia que se baseia num princípio rudimentar e pueril: o de que todas as referências históricas -- incluindo as que remetem, por exemplo, para os que puseram em prática os crimes do nazismo e do comunismo -- são intermutáveis.
Na prática, o carácter intermutável que se atribui à história e às suas referências faz com que se enfraqueça qualquer relação pertinente com as memórias, individuais e colectivas. O que aqui acontece implica, em última instância, que já não há história, apenas expressões maniqueístas de tendências abstractas. E nisso, e com isso, com ou sem sida, perdemos todos.