Publicado em 2005, o romance La Possibilité d’une Ile (traduzido e publicado entre nós como A Possibilidade de Uma Ilha) juntou-se ao igualmente magnífico epílogo de As Partículas Elementares para definir na obra do escritor Michel Houellebecq um importante contributo para a definição de novos caminhos para a ficção científica. O livro seguia de certa forma um conjunto de ideias lançadas pelo clássico Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley para lhe acrescentar alguns temperos muito pessoais (nomeadamente um interesse pelo fenómeno dos pequenos grupos religiosos e uma visão algo misantropa da vida em sociedade) e uma série de reflexões sobre um dos assuntos com maior protagonismo no debate ético da ciência dos nossos dias: a clonagem.
Depois do livro (e muito bom de facto o texto é, sublinhe-se), o escritor francês resolveu transportá-lo para o cinema. Não o fez procurando quem o adaptasse a um argumento e guião para depois procurar produtor e realizador. Tomou a obra em suas mãos. Rodou ele mesmo o filme. E acabou com um absoluto disparate nas mãos.
Ver La Possibilité d’une Ile (agora disponível em DVD no mercado francês) ou ler o livro são experiências garantidamente distintas. E quase antagónicas. Sem falar na péssima direcção de actores nem numa direcção artística valentes furos abaixo da fasquia do “mau”, o filme peca essencialmente pela má gestão da relação entre o texto original e o guião. E não mostra uma única marca de identidade numa realização sem brilho algum. O resultado final merece uma reflexão sobre a consciência dos limites de cada um. Houellebecq é um dos grandes romancistas do nosso tempo. Pelo seu prisma muito peculiar reflecte sobre uma sociedade que critica e desmonta. Como realizador, contudo, não parece ter nada para nos dizer…