quinta-feira, setembro 17, 2009

Nos bastidores de Woodstock

Em Brokeback Mountain e A Tempestade de Gelo Ang Lee já assinara dois magníficos olhares sobre a América de finais de 60 e inícios de 70. Agora, animado pelas memórias que Elliot Tiber registou na autobiografia Taking Woodstock: A True Story Of A Riot, a Concert and A Life, regressa a 1969.
O cenário, como o título Taking Woodstock (estreia hoje em Portugal) sugere, é o do mítico festival que fez história no Verão de há precisamente 40 anos. Apesar de piscar por vezes o olho ao documentário de Michael Wadleigh (recentemente reeditado em DVD), Ang Lee opta por centrar o seu retrato na família de Elliot, filho de um casal de emigrantes que então geria um hotel decadente e que chama a organização do festival à pequena cidade a norte do estado de Nova Iorque, onde a festa se instala e faz história. No livro Elliot, um homossexual no armário quando perto dos pais (vivendo fora dele apenas quando em Nova Iorque), recorda dois eventos marcantes nesse Verão de 69: os motins de Stonewall, que também viveu na primeira pessoa, e o festival de Woodstock. Ang Lee ignora literalmente o primeiro (que na verdade aconteceu poucas semanas antes do segundo). Mas depois, mesmo observando o festival do ponto de vista de uma família que vê o seu pacato motel transformado numa das estruturas centrais da produção do festival, Ang Lee acaba por não ir muito além dos lugares comuns que a mitologia popular há 40 anos associa a Woodstock: multidões, lama, nudez, trips ácidas, cabelos compridos, roupas garridas… Não se vê uma cena de palco (nem faria falta num olhar pelos bastidores do festival). Mal se ouve música (se bem que uma magnífica canção dos Love pontue uma das cenas). No fim, falta a Taking Woodstock um mais profundo mergulho no universo em volta da multidão que acorreu a Bethel em Agosto de 69 e que, ainda por cima com um relato pessoal (e local) como ponto de partida, poderia ter levado ao grande ecrã.