quinta-feira, setembro 24, 2009

Mercado: os filmes que "ninguém" vê

É apenas um exemplo: The Walker/O Acompanhante (2007) é um grande filme, assinado por um grande senhor do cinema americano, Paul Schrader (argumentista de Taxi Driver), que apenas foi lançado em DVD. É um sintoma da "marginalização" a que estão a ser sujeitos muitos títulos importantes e, estranhamente, com claras potencialidades comerciais. Como contraponto, as salas cada vez estreiam um maior número de filmes, sob o signo de uma maior arbitrariedade e improviso — este texto foi publicado no Diário de Notícias (19 de Setembro), com o título 'A oferta e a procura'.

Os jornalistas e críticos de cinema vêem, normalmente, os filmes que estreiam com alguma antecedência, graças às sessões promovidas pelos respectivos distribuidores. É uma prática antiga, obviamente salutar, de colaboração entre diferentes instâncias profissionais. Ultimamente, tornou-se impossível, mesmo sendo selectivo, acompanhar o essencial dessas sessões. Porque são muitas e, muitas vezes, a horas sobrepostas? Sim, claro. Mas o problema não é esse. O problema é o facto de tal situação reflectir uma inflação de estreias que se tornou comercialmente irrealista.
Nos EUA, quando há uma semana com meia dúzia de estreias nacionais, os analistas discutem a eficácia dessa “acumulação”. Em Portugal, esta semana são lançados sete novos títulos [dia 17], para a semana [24] outros tantos e, por exemplo, para 8 de Outubro, está anunciada uma dezena de estreias. Como é óbvio, a dificuldade de acompanhamento de jornalistas e críticos é uma questão secundária. A pergunta é: qual é a capacidade de acompanhamento do espectador médio? Alguém está a pensar as relações entre oferta e procura?