Na série Mad Men, tudo é pose. No sentido em que o mundo todo — as utopias dos sixties, a publicidade, a grande metrópole, as famílias — parece organizado para sustentar e, num certo sentido, celebrar uma ordem natural e imaculada. Mas não é possível viver sem, em algum momento, interromper a pose. Daí que, em Mad Men, toda a verdade seja um misto perverso de exposição e ocultação, um verdadeiro campo de batalha em que se decide o (des)equilíbrio entre homens e mulheres.
É raro uma série de televisão ser, ao mesmo tempo, tão transparente e tão complexa, tão genuinamente televisiva e tão ambiguamente cinematográfica (e pedagogicamente cinéfila em relação às memórias melodramáticas de Hollywood). Como se o criador Matthew Weiner — e a espantosa equipa que com ele trabalha — tivesse conseguido aceder a um domínio de linguagem em que todas as barreiras internas do audiovisual se dissolvem para dar origem a uma narrativa que, afinal, na sua singularidade, é tão-só admiravelmente realista. Já nos tínhamos esquecido que a televisão pode tocar, assim, os desejos e os silêncios, expor as atribulações da carne e aceitar o esplendoroso silêncio da alma.