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É raro uma série de televisão ser, ao mesmo tempo, tão transparente e tão complexa, tão genuinamente televisiva e tão ambiguamente cinematográfica (e pedagogicamente cinéfila em relação às memórias melodramáticas de Hollywood). Como se o criador Matthew Weiner — e a espantosa equipa que com ele trabalha — tivesse conseguido aceder a um domínio de linguagem em que todas as barreiras internas do audiovisual se dissolvem para dar origem a uma narrativa que, afinal, na sua singularidade, é tão-só admiravelmente realista. Já nos tínhamos esquecido que a televisão pode tocar, assim, os desejos e os silêncios, expor as atribulações da carne e aceitar o esplendoroso silêncio da alma.