domingo, setembro 06, 2009

Expo 70 (e outras músicas)

Apesar de universalmente reconhecido como um dos mais influentes compositores do século XX, Karlheinz Stockhausen não é nome frequente nos escaparates das discotecas. Grande parte da sua obra em disco está hoje disponível por venda postal através do site da editora que ele próprio criou para a sua música. E os discos que gravou para a Deutsche Grammophon entre as décadas de 50 e 70 são pérolas disputadas por coleccionadores a preços nada meigos. Assinale-se então a chegada ao mercado nacional de um novo título com gravações de obras suas.

Integrado na série que a EMI Classics está a dedicas a compositores do século XX, este disco (duplo, como os demais títulos da colecção) não é na verdade mais senão uma reunião de gravações de obras de Stockhausen que constam dos arquivos da EMI. O disco reune oito peças, que traduzem quatro gravações concretas. Uma, de 1975, com o percussionista Tristan Fry, que interpreta Zyklus, obra para percussão originalmente criada para um teste para um curso em Darmstadt em 1959, mas que acabou por se transformar numa das mais tocadas das obras de Stockhausen. Markus Stockhausen surge em duas gravações distintas. Uma primeira, de 1993, apresenta Tierkreis, um conjunto de 12 pequenas melodias que ilustram os signos do zodíaco. A segunda, de 1998, recorda In Freundschaft (de 1977), obra pensada para ser interpretada de memória, indicando a partitura tanto indicações sobre a música a tocar como sobre os gestos a encenar em palco. A maior preciosidade deste conjunto de gravações é, contudo, a série de cinco peças de música electro-acústica que Peter Eötövos (com outros músicos) gravou em Abbey Road em 1973, que inclui Japan, Watch, as duas partes de Spiral e Pole, estas últimas obras-chave música electro-acústica criadas para a Expo 70, em Osaka.

A imagem mostra o cenário que, durante a Expo 70, acolheu diariamente actuações de Karlheinz Stockhausen e dos seus músicos. Estamos no pavilhão alemão (da então RFA, entenda-se)… Com forma esférica, propunha uma instalação de som, com 50 colunas, que permitia uma sensação de tridimensionalidade que a música de Stockhausen, criada para aquele lugar, procurou explorar. Spiral foi ali interpretado mais de 1300 vezes durante 180 dias, perante mais de um milhão de visitantes. Tanto Spiral como Pole reflectem o interesse que Stockhausen então manifestava pelo som de ondas curtas (cuja utilização seria igualmente central ao magnífico ciclo Hymnen). Como o próprio então descreveu, atraiam-no sobretudo “os sinais em morse, os fragmentos de melodias, a estática entre as estações, o súbito emergir e desaparecer de vozes provenientes dos mais diversos lugares do planeta… misturando todas as culturas, regiliões e sistemas políticos”. Pole e Spiral são obras de referência na história da música electrónica.