Este texto integra a série "Política das imagens", nas páginas do DN ao longo da campanha para as eleições de 27 de Setembro — foi publicado no dia 17, com o título 'Asfixias para todos os gostos'.
É sabido que qualquer cultura dominante gera (e expande) a sua própria retórica. No nosso contexto, a cultura dominante é a televisão. E de tal modo que nos faz esquecer o seu poder para além das imagens. Seria interessante confrontar a televisão com a sua acção no espaço da fala, na circulação das palavras e na imposição de determinados padrões discursivos. Exemplos? Apenas um, já clássico: foi através da televisão que triunfou esse horror gramatical e sonoro que é a expressão “à última da hora”; na prática, a maioria da população deixou de saber dizer “à última hora”.
Agora, outro exemplo está a contaminar o debate eleitoral: direitas e esquerdas empenham-se em escalpelizar a “asfixia democrática”, sem que ninguém questione o absurdo da expressão. De facto, se se trata de denunciar eventuais abusos do aparelho estatal (e ninguém contesta a necessidade de o fazer), poderá falar-se em “asfixia da democracia” ou “asfixia anti-democrática”. Proclamar uma “asfixia democrática” não passa de uma patética contradição.
Quem mais perde por não questionar a expressão é, obviamente, o Partido Socialista que, assim, repete o silêncio de outras forças políticas de outros governos. Que silêncio é esse? O que impede as organizações da classe política (não necessariamente os indivíduos) de trazer para a praça pública a discussão da percepção da própria política construída pela acção da televisão.
Observe-se, a propósito, o esclarecedor contraponto: quando José Sócrates questiona o funcionamento do Jornal de Sexta da TVI, o país é abalado pelo pânico de podermos ter um primeiro-ministro com vocação ditatorial; quando o discurso político de Alberto João Jardim favorece uma imagem infantil do trabalho dos jornalistas, é promovido a símbolo do kitsch televisivo. Diz-me como te asfixias...
É sabido que qualquer cultura dominante gera (e expande) a sua própria retórica. No nosso contexto, a cultura dominante é a televisão. E de tal modo que nos faz esquecer o seu poder para além das imagens. Seria interessante confrontar a televisão com a sua acção no espaço da fala, na circulação das palavras e na imposição de determinados padrões discursivos. Exemplos? Apenas um, já clássico: foi através da televisão que triunfou esse horror gramatical e sonoro que é a expressão “à última da hora”; na prática, a maioria da população deixou de saber dizer “à última hora”.
Agora, outro exemplo está a contaminar o debate eleitoral: direitas e esquerdas empenham-se em escalpelizar a “asfixia democrática”, sem que ninguém questione o absurdo da expressão. De facto, se se trata de denunciar eventuais abusos do aparelho estatal (e ninguém contesta a necessidade de o fazer), poderá falar-se em “asfixia da democracia” ou “asfixia anti-democrática”. Proclamar uma “asfixia democrática” não passa de uma patética contradição.
Quem mais perde por não questionar a expressão é, obviamente, o Partido Socialista que, assim, repete o silêncio de outras forças políticas de outros governos. Que silêncio é esse? O que impede as organizações da classe política (não necessariamente os indivíduos) de trazer para a praça pública a discussão da percepção da própria política construída pela acção da televisão.
Observe-se, a propósito, o esclarecedor contraponto: quando José Sócrates questiona o funcionamento do Jornal de Sexta da TVI, o país é abalado pelo pânico de podermos ter um primeiro-ministro com vocação ditatorial; quando o discurso político de Alberto João Jardim favorece uma imagem infantil do trabalho dos jornalistas, é promovido a símbolo do kitsch televisivo. Diz-me como te asfixias...