sexta-feira, setembro 18, 2009

Eleições 2009: a fealdade dos cartazes

Este texto integra a série "Política das imagens", nas páginas do DN ao longo da campanha para as eleições de 27 de Setembro — foi publicado no dia 15, com o título 'Os cartazes serão intermutáveis?'.

A beleza tornou-se um valor fraco, para não dizer incómodo. Aliás, os cidadãos portugueses são sujeitos, há mais de trinta anos, a uma sistemática educação para a fealdade. Essa educação tem um nome: telenovela. E, por mim, há mais de trinta anos que espero que algum político chame as coisas pelo seu nome e venha dizer, muito simplesmente, que uma população maioritariamente educada por tais ficções televisivas não pode interessar-se (quanto mais tomar a sério) tudo o que não obedeça aos seus critérios morais e normas narrativas.
Isto para dizer que não tem nada de surpreendente que os partidos políticos encham as nossas ruas com cartazes de propaganda política que, com pouquíssimas excepções, agudizam a fealdade urbana. Aliás, o problema é anterior a qualquer consideração estética (e bem sei que a palavra “estética” também não está a viver os seus melhores dias, de tal modo passou a servir para descrever as cores berrantes dos concursos televisivos). É um problema de chocante homogeneização.
Podemos discutir a maior ou menor “limpeza” técnica de cada cartaz. O certo é que estas eleições impuseram uma espécie de unicidade figurativa que dá que pensar (em boa verdade, alheia a qualquer diferença de pensamento). Direitas e esquerdas parecem concordar que só há uma maneira de fazer cartazes: um grande plano de um dirigente político, sobreposto a um fundo mais ou menos garrido, com uma frase mais ou menos panfletária.
E não se trata de dizer que são todos “iguais”. Trata-se antes de reconhecer que todos gritam as suas diferenças para acabarem igualizados no trabalho iconográfico. Será que os cartazes são intermutáveis? Será que os políticos não souberam escolher os seus técnicos de campanha? Ou dar-se-á o caso de esses mesmos políticos já não terem ideias para fazer campanha?