Este texto integra a série "Política das imagens", nas páginas do DN ao longo da campanha para as eleições de 27 de Setembro — foi publicado no dia 24, com o título 'Elogio de um discreto erotismo'.
Um dos mais interessantes cartazes surgidos nesta campanha faz-se com um grande plano de um rapaz e uma rapariga, abraçados. Ele está de costas, ela olha para fora da imagem e trinca a ponta da orelha dele. Há uma clara sugestão de cumplicidade sexual, confirmada pela frase mais destacada: “A tua primeira vez...”. Através das restantes frases, percebemos que se trata da “primeira vez” eleitoral: “Não deixes que escolham por ti, vota!”.
O cartaz [em cima] é da Juventude Social Democrata e tem, pelo menos, o mérito de fugir ao modelo dominante desta campanha: os líderes são quase sempre representados como cabeças de marioneta, literalmente sem corpo, sob fundo mais ou menos neutro, sem qualquer contexto realista ou simbólico. Por vezes, a simples qualidade fotográfica é banal, como em alguns cartazes de Francisco Louçã ou Manuela Ferreira Leite, o que só pode enfraquecer ainda mais o impacto das “mensagens”.
Quase ninguém arriscou qualquer tipo de discreta erotização, como aquela que, com calculada ironia, se encontra no cartaz da JSD. As outras excepções são os dois cartazes de José Sócrates, sob o lema “Avançar Portugal”: o primeiro rodeado de personagens femininas; o segundo [em baixo] mais abstracto mas, apesar de tudo, remetendo para alguma contextualização humana.
A contradição é preocupante: por um lado, os partidos têm sempre qualquer coisa de panfletário para dizer sobre a sociedade da “informação”, o mundo das “imagens”, a importância dos “media”, etc., etc.; por outro lado, revelam uma impotência iconográfica que os faz parecer associações civis a pregar para uma sociedade onde ainda nem sequer existe rádio. O problema não é a eventual mediocridade de conselheiros de imagem ou técnicos de marketing: é não haver políticas verdadeiramente imaginativas que os ponham a trabalhar de outro modo.
Um dos mais interessantes cartazes surgidos nesta campanha faz-se com um grande plano de um rapaz e uma rapariga, abraçados. Ele está de costas, ela olha para fora da imagem e trinca a ponta da orelha dele. Há uma clara sugestão de cumplicidade sexual, confirmada pela frase mais destacada: “A tua primeira vez...”. Através das restantes frases, percebemos que se trata da “primeira vez” eleitoral: “Não deixes que escolham por ti, vota!”.
O cartaz [em cima] é da Juventude Social Democrata e tem, pelo menos, o mérito de fugir ao modelo dominante desta campanha: os líderes são quase sempre representados como cabeças de marioneta, literalmente sem corpo, sob fundo mais ou menos neutro, sem qualquer contexto realista ou simbólico. Por vezes, a simples qualidade fotográfica é banal, como em alguns cartazes de Francisco Louçã ou Manuela Ferreira Leite, o que só pode enfraquecer ainda mais o impacto das “mensagens”.
Quase ninguém arriscou qualquer tipo de discreta erotização, como aquela que, com calculada ironia, se encontra no cartaz da JSD. As outras excepções são os dois cartazes de José Sócrates, sob o lema “Avançar Portugal”: o primeiro rodeado de personagens femininas; o segundo [em baixo] mais abstracto mas, apesar de tudo, remetendo para alguma contextualização humana.
A contradição é preocupante: por um lado, os partidos têm sempre qualquer coisa de panfletário para dizer sobre a sociedade da “informação”, o mundo das “imagens”, a importância dos “media”, etc., etc.; por outro lado, revelam uma impotência iconográfica que os faz parecer associações civis a pregar para uma sociedade onde ainda nem sequer existe rádio. O problema não é a eventual mediocridade de conselheiros de imagem ou técnicos de marketing: é não haver políticas verdadeiramente imaginativas que os ponham a trabalhar de outro modo.