Este texto integra a série "Política das imagens", nas páginas do DN ao longo da campanha para as eleições de 27 de Setembro — foi publicado no dia 23, com o título 'Antes de desligar o televisor'.
Segunda-feira à noite, no programa Prós e Contras (RTP1), algumas intervenções dos especialistas em sondagens convidados por Fátima Campos Ferreira deixaram uma interessantíssima perspectiva sobre os movimentos do eleitorado português. Assim, ao contrário do que acontece no Reino Unido ou nos EUA, não existem entre nós famílias estáveis de eleitores que permitam antecipar confrontos mais ou menos claros entre determinados programas políticos. Esquematizando (espero que não excessivamente), poderá dizer-se que uma eleição num daqueles países se decide pelas variações de voto de 4 ou 5 por cento dos cidadãos, enquanto em Portugal os eleitores “instáveis” podem ascender a 10, 15 por cento, ou mesmo mais.
Razões para isto? Muitas, por certo, a mais óbvia das quais será a volatilidade das bases eleitorais, ou mesmo especificamente partidárias. Em todo o caso, permito-me perguntar se colocar o problema a partir desse pressuposto não é sempre transferir todas as causas para o espaço dos eleitores, dispensando-nos de perguntar o que fazem os aparelhos partidários. Porque é que, para além das suas bases mais ou menos sólidas de militantes, os partidos têm dificuldade em estabilizar o seu eleitorado?
Semelhante dúvida relança outra, necessariamente enredada com o momento tão particular que estamos a viver: será que o impacto mediático e, sobretudo, televisivo que os partidos procuram se faz à custa (ou em vez de) um sistemático enraizamento no dia a dia da vida colectiva? Há uma maneira cruel e pouco simpática de colocar a mesma pergunta: será que, quando não há câmaras de televisão por perto, os partidos políticos ficam limitados na sua imaginação para comunicar com cada um de nós? Ou ainda: estamos a viver em asfixia televisiva? Podemos, aliás, desligar o botão e repetir a pergunta.
Segunda-feira à noite, no programa Prós e Contras (RTP1), algumas intervenções dos especialistas em sondagens convidados por Fátima Campos Ferreira deixaram uma interessantíssima perspectiva sobre os movimentos do eleitorado português. Assim, ao contrário do que acontece no Reino Unido ou nos EUA, não existem entre nós famílias estáveis de eleitores que permitam antecipar confrontos mais ou menos claros entre determinados programas políticos. Esquematizando (espero que não excessivamente), poderá dizer-se que uma eleição num daqueles países se decide pelas variações de voto de 4 ou 5 por cento dos cidadãos, enquanto em Portugal os eleitores “instáveis” podem ascender a 10, 15 por cento, ou mesmo mais.
Razões para isto? Muitas, por certo, a mais óbvia das quais será a volatilidade das bases eleitorais, ou mesmo especificamente partidárias. Em todo o caso, permito-me perguntar se colocar o problema a partir desse pressuposto não é sempre transferir todas as causas para o espaço dos eleitores, dispensando-nos de perguntar o que fazem os aparelhos partidários. Porque é que, para além das suas bases mais ou menos sólidas de militantes, os partidos têm dificuldade em estabilizar o seu eleitorado?
Semelhante dúvida relança outra, necessariamente enredada com o momento tão particular que estamos a viver: será que o impacto mediático e, sobretudo, televisivo que os partidos procuram se faz à custa (ou em vez de) um sistemático enraizamento no dia a dia da vida colectiva? Há uma maneira cruel e pouco simpática de colocar a mesma pergunta: será que, quando não há câmaras de televisão por perto, os partidos políticos ficam limitados na sua imaginação para comunicar com cada um de nós? Ou ainda: estamos a viver em asfixia televisiva? Podemos, aliás, desligar o botão e repetir a pergunta.