A vulgaridade dos concursos televisivos tornou-se penosa. Mas há, apesar de tudo, algumas excepções capazes de contrariar a rotina -- este texto foi publicado no Diário de Notícias (11 de Setembro), com o título 'Apenas um concurso'.
Confesso que me tornei um espectador relutante de concursos. Mea culpa. Com a proliferação de apresentadores populistas, de escasso talento para lidar com as câmaras (para lá de todos os sobressaltos, Herman José continua a ser uma excepção), tornou-se difícil suportar tantas vulgaridades, desde a utilização demagógica da noção de “cultura geral” até à exploração de concorrentes vestidos de crocodilos às bolinhas roxas deslizando por superfícies oleadas com manteiga de amendoim para tentar enfiar um caixote de ananases num buraco aberto numa parede de lama misturada com esferovite. Estou a inventar, eu sei, ma non troppo…
No passado sábado [dia 4], assisti à edição de Dá-me Música (RTP1), concurso que tem a vantagem de ser um mero jogo de adivinhação, sem disfarces “culturalistas”. Desta vez, Herman José e Álvaro Costa integravam cada um uma equipa e, quanto mais não seja pela sua verve, decidi ver até ao fim.
A melhor surpresa foi a performance de Catarina Furtado nas tarefas de apresentação. E digo surpresa porque a sua evolução televisiva, porventura também como actriz (mas esta suposição é frágil e discutível), sempre me pareceu condicionada por uma certa formatação de estilo e pose. Pois bem, Catarina Furtado conseguiu criar uma persona pessoal (passe a redundância) que, através de uma metódica disciplina de corpo e voz, lhe confere a dimensão de uma genuína personalidade do entertainment televisivo. Falta-lhe, a meu ver, uma maior atenção nas componentes improvisadas das falas, mas é um facto que sabe “encher” um estúdio. Tem, por isso, qualquer coisa de contraditório o facto de a realização (escorreita segundo os padrões destes programas) não procurar uma maior diversificação de escalas ao enquadrar Catarina Furtado, faltando planos médios e aproximados: é estranho, por exemplo, que nos diálogos com os membros das equipas, estes surjam sempre num quase grande plano que contrasta com o espaço mais aberto em que vemos a apresentadora.
Dá-me Música é apenas um concurso, singelo e limitado. Seja como for, não é todos os dias que um programa deste género, em vez de anular uma figura, potencia as suas qualidades.
Confesso que me tornei um espectador relutante de concursos. Mea culpa. Com a proliferação de apresentadores populistas, de escasso talento para lidar com as câmaras (para lá de todos os sobressaltos, Herman José continua a ser uma excepção), tornou-se difícil suportar tantas vulgaridades, desde a utilização demagógica da noção de “cultura geral” até à exploração de concorrentes vestidos de crocodilos às bolinhas roxas deslizando por superfícies oleadas com manteiga de amendoim para tentar enfiar um caixote de ananases num buraco aberto numa parede de lama misturada com esferovite. Estou a inventar, eu sei, ma non troppo…
No passado sábado [dia 4], assisti à edição de Dá-me Música (RTP1), concurso que tem a vantagem de ser um mero jogo de adivinhação, sem disfarces “culturalistas”. Desta vez, Herman José e Álvaro Costa integravam cada um uma equipa e, quanto mais não seja pela sua verve, decidi ver até ao fim.
A melhor surpresa foi a performance de Catarina Furtado nas tarefas de apresentação. E digo surpresa porque a sua evolução televisiva, porventura também como actriz (mas esta suposição é frágil e discutível), sempre me pareceu condicionada por uma certa formatação de estilo e pose. Pois bem, Catarina Furtado conseguiu criar uma persona pessoal (passe a redundância) que, através de uma metódica disciplina de corpo e voz, lhe confere a dimensão de uma genuína personalidade do entertainment televisivo. Falta-lhe, a meu ver, uma maior atenção nas componentes improvisadas das falas, mas é um facto que sabe “encher” um estúdio. Tem, por isso, qualquer coisa de contraditório o facto de a realização (escorreita segundo os padrões destes programas) não procurar uma maior diversificação de escalas ao enquadrar Catarina Furtado, faltando planos médios e aproximados: é estranho, por exemplo, que nos diálogos com os membros das equipas, estes surjam sempre num quase grande plano que contrasta com o espaço mais aberto em que vemos a apresentadora.
Dá-me Música é apenas um concurso, singelo e limitado. Seja como for, não é todos os dias que um programa deste género, em vez de anular uma figura, potencia as suas qualidades.