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Nostalgia romântica, por certo. Mas também urgência de regressar a uma música que conserva as enigmáticas ambiguidades de um tempo em que ainda se sentem os ecos dos padrões clássicos e, ao mesmo tempo, se rasgam caminhos para paisagens fascinantes e vulneráveis, porventura sem nome. A arte de Barenboim adquire uma vibração muito carnal, especialmente em peças "menores" (como a Berceuse), como se ele próprio nos confessasse a deriva interior que as notas de Chopin contêm e, de algum modo, suscitam. Apesar das tosses (e de um obsceno telemóvel), foi um fim de tarde memorável, certamente esperado — mas o que distingue Barenboim não é a "surpresa", apenas o esplendor do indizível.