segunda-feira, agosto 10, 2009

"Jazz em Agosto": saxofone x 4

FOTO Joaquim Mendes / FCG

É bom estarmos disponíveis para não ter razão contra a música. É bom, acima de tudo, podermos aceitar que as razões da música não se fazem contra a nossa escuta — pedem-na, exigem-na, mesmo po-dendo dispensá-la. Assim é a música do quarteto francês Propaga-tions — da esquerda para a direita, na foto: Stéphanes Rives (saxofone soprano), Jean-Luc Guionnet (saxofone alto), Marc Baron (saxofone alto) e Bertrand Denzler (saxofone tenor).
Que concerto foi este? Que fazem quatro saxofones tão aconchegados numa solidão em que já não há a sempre protec-tora "secção rítmica"? Em boa verdade, fazem um pouco de tudo: são instru-mentos de sopro, hélas!, fingem-se cordas, produzem percussão... O resultado justifica, mais do que nunca, a palavra paisagem como instrumento descritivo e, no limite, destino simbólico: nenhum deles lidera os outros, do mesmo modo que nenhum assume a responsabilidade de enunciar um tema à espera de variações dos outros — o tema é a própria coexistência dos saxofones, numa atmosfera em que se celebra um sentido de colagem que transcende valores conhecidos de melodia, harmonia, ritmo ou timbre. Se a evocação pode ser sugestiva, prevalece aqui uma lógica de difusão-e-reunião (de sons, porventura também de imagens) que faz lembrar Atmosphères, peça que György Ligeti compôs em 1961 e, sete anos mais tarde, surgiu em 2001: Odisseia no Espaço, reapropriada por Stanley Kubrick — e, mais além, o infinito.

>>> Sites pessoais: Marc Baron + Bertrand Denzler + Jean-Luc Guionnet + Stéphane Rives.