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Podia ter-lhe chamado música inacabada, mas a verdade é que, no fim, acabou por lhe dar forma. Falamos de Ohad Benchetriit (elemento do colectivo Broken Social Scene e colaborador em gravações de nomes que vão dos Hidden Cameras a Feist. Estamos portanto em terreno candiano… Durante anos, o guitarrista (e também baixista, safoxonista e flauitista) foi trabalhando pequenas ideias que juntou no disco rígido do computador. Canções que começava a trabalhar e que, mais dia menos dia, deixava inacabadas, passando algum tempo depois para a ideia seguinte. Até que chegou o dia em que resolveu por fim dar forma à música que tinha nessa gaveta digital. É este o ponto de partida para um envolvente (mas discreto) disco de música instrumental, que edita através do projecto
Years, no qual divide o trabalho com Justin Small (seu parceiro nos Do Make Say Think), contando ainda com uma série de coleborações que juntam às ideias outrora guardadas no computador os sons de um trompete, trombone, violino, acordeão, percussões…
Years é um pequeno mundo de acontecimentos elegantes. Álbum instrumental, estabelece interessantes pontes entre uma linguagem “sinfonista” que tem marcado presença em algumas experiências
indie canadianas dos últimos anos (como a Bell Orchestre, por exemplo), vincando um conjunto de interesses pela folk e alguma música contemporânea, revelando ocasionais instantes de filingana electrónica que expandem as texturas da música a outros horizontes.
Years vive de fragmentos que, reunidos, sugerem agora um corpo. A ideia podia ter gerado uma colecção aleatória de vinhetas. Mas convenhamos que Ohad soube arrumar as peças e delas criar uma soma consequente. Uma belíssima surpresa.
Years
“Years”Arts & Crafts
4 / 5Para ouvir:
MySpace
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Entre os mais remotos sonhos da humanidade conta-se certamente o da descoberta de uma eventual “fonte da juventude”. Coisa que, ao fim de uns milhares de anos a viver neste planeta, já descobrimos que não existe. Pelo que, a menos que haja patologia por perto, o tempo acaba por fazer com que todos… cresçam. Há cinco anos, quando os descobrimos, os
Arctic Monkeys revelavam um sentido de urgência no relatar de uma realidade em seu redor que deles fez (e do seu primeiro álbum) reconhecidos cronistas da adolescência. Da sua e do seu tempo, entenda-se. Mas passaram quase cinco anos… Pelo meio um segundo álbum não muito distante. E, sobretudo para Alex Turner (o vocalista), uma experiência paralela, nos Last Shadow Puppets (autores de um dos melhores discos pop da Inglaterra pós-milénio) que certamente abriu portas… E é na sequência destes eventos, ou seja, do tempo vivido ao aceitar dos novos horizontes alcançados, que vive o terceiro álbum dos Arctic Monkeys. Um disco necessariamente diferente. E ainda bem! Alex vive hoje em Brooklyn. O mundo ao seu redor alargou-se. E o universo de sons que os quatro músicos agora partilham acolheu o sabor da descoberta de heranças, que vão de um Jimi Hendrix aos Doors, aos Cream… A história do
rock’n’roll faz-se na verdade disto mesmo. Da capacidade em escutar, acolher ideias e reinventá-las logo depois. É o que os Arctic Monkeys começam a fazer neste primeiro disco do resto das suas vidas, no qual contaram com precisosas colaborações, quer de Josh Home (Queens Of the Stone Age) ou James Ford (Simian Mobile Disco). Não rompem com o passado (
Pretty Visitors assegura-o), mas canções como
Secret Door, Cornestrone ou
The Jeweller’s Hand revelam uma música onde habitam mais sombras e dúvidas, que só poderão contribuir para a construção de uma ideia de carreira. Sem fazer disto uma comparação directa, recordemos que uns Beatles não cantaram variações de
Love Me Do durante muitos anos… Com
Humbug os Arctic Monkeys mostram que, definitivamente, são mais que apenas os protagonistas de um fenómeno localizado no tempo. Pelo contrário, parecem decididos a semear um futuro. É o que fazem com
Humbug.
Arctic Monkeys
“Humbug”Domino / Edel
4 / 5Para ouvir:
MySpace
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Há basicamente dois grandes caminhos pela frente de quem, 30 anos depois, deseja assimilar as assombrações de uns Joy Division e contemporâneos. Ou vai de pompa e drama, ao jeito de uns Editors e afins, acabado em entediantes novos episódios de mais do mesmo. Ou, como alternativa, toma-se a ideia como ponto de partida, procurando escutar as sugestões com atenção, arrumando-as com cuidado num novo espaço. É este o caminho que seguem os quatro londrinos que se apresentam como
The XX. Estudaram na Eliott School (a mesma de onde sairam nomes como os Hot Chip, Burial ou Four Tet), já trabalharam com Diplo e fizeram primeiras partes de Micachu e dos The Big Pink… Juntaram-se numa sala nas traseiras dos escritórios da editora, onde gravaram e produziram eles mesmos as canções deste seu primeiro álbum.
XX pode não vir a abalar o sistema nem causar trepidação no cenário pop/rock deste final de década. Mas revela não apenas uma boa colecção de canções, como uma abordagem instrumental que soube entender o valor da contenção, concedendo ao alinhamento final um sentido de espaço onde nos é possível entrar e contemplar… O jogo de vozes ele e ela serve depois uma série de olhares e reflexões que tanto ultrapassam os estereótipos fáceis de geração como evitam a colagem a meras colagens de devoção perante referências… Quando parecia que o filão “finais de 70” estava esgotado, aqui se mostra tranquila nova abordagem. Sem as pretensões nem as pilhas de tonelagem épica de outras que ouvimos nos últimos tempos. Uma bela estreia.
The XX
“XX”
Young Turks / Popstock
3 / 5Para ouvir:
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Tornaram-se numa das mais disputadas referências na música de dança (de afinidade mais próxima da canção). Editaram alguns singles promissores… Mas quando chegou a hora de editar um primeiro álbum,
Attack Sustain Release foi uma relativa desilusão… Dois anos depois,
Temporary Pleasure segue, felizmente, outro caminho. Sem abandonar as ferramentas electrónicas nem os dialectos característicos de algumas das tendências actuais ao serviço da pista de dança, os dois elementos dos
Simian Mobile Disco parecem ter reencontrado a carga genética mais pop que em tempos conduzia os destinos dos Simian. Na verdade, sensibilidade para a canção não é argumento em falta no dia a dia de James Ford, que nos últimos tempos produziu Peaches e Arctic Monkeys… E é de canções que vive a essência de
Temporary Pleasure, às quais chamam uma série de vozes que as transformam em momentos de belo teatro pop. Beth Ditto (Gossip), Jamie Lidell, Gruff Rhys (Super Furry Animals), Alexis Taylor (Hot Chip) ou Chris Keating (Yeasayer), este ultimo no irresistível
Audacity Of Huge (o single de avanço) são alguns dos parceiros num disco que, mesmo longe de alcançar os patamares de uns Junior Boys, revela significativos passos em frente relativamente ao álbum de 2007.
Simian Mobile Disco
“Temporary Pleasure”Wichita / Nuevos Medios
3 / 5Para ouvir:
MySpace
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Uma nova geração de artistas pop está a ganhar forma. Uma geração que, contra as linhas-mestras que o género seguiu nos últimos anos, não só abre horizontes além de um protagonismo outrora quase exclusivo das esferas de influência do r&b e hip hop, como parece mostrar que, apesar das evidentes ambições de mercado, não tem vontade em ceder o poder de decisão a produtores (e editores) que até há bem pouco seguravam os cordelinhos do que acontecia nestes campeonatos. No sector feminino, destacam-se já figuras como Annie, Robyn, Little Boots ou o par La Roux. No departamento dos “eles”, começa a ganhar notoriedade Calvin Harris, ao mesmo tempo que se estreiam Frankmuzik e
Dan Black. Falemos então deste último. Inglês, passou em tempos por bandas, mas há já algum tempo trabalha em nome próprio. Começou por ganhar visibilidade com uma canção trabalhada a partir de
Hypnotize de Notorious B.I.G., mas da recusa em autorizar a cedência das palavras originais, acabou por retrabalhar a ideia daí nascendo
Symphonies, o grande momento pop deste disco. Tecnicamente é um disco capaz, propondo ocasionalmente canções que chamam a atenção.
Alone, por exemplo, podia morar num disco dos Hot Chip.
U + Me cruza elegância e intensidade.
Cigarette Pack recorda a clássica eficácia pop das harmonias vocais… Mas ocasionalmente o azeite jorra mais que o necessário… O que deixa no ar uma eventual vontade em seguir caminhos mais fáceis, daí resultando um disco que parece dividido num debate de indentidade que aqui não se resolve claramente.
Dan Black
“Un”A&M Records
2 / 5Para ouvir:
MySpace
Também esta semana:Calvin Harris, Bernstein (Alsop), Joe Henry
Brevemente:31 de Agosto –Noah and The Whale, Brendan Benson, St Etienne (reedições), Magazine (live, reedição), Michael Jacskon (Motown solo)
7 de Setembro – Rufus Wainwright (live), Prefab Sprout, Yo la Tengo, Beatles (reedições), Mutantes, The Cribs, Ultravox (reedições), Marc Almond, Dot Allison, Brahms (S Rattle), Pete Yorn + Scarlett Johnsson, Kajagoogoo (best of), Julian Cope (reedição)
14 de Setembro – David Sylvian, Big Pink, The Very Best, Muse, Zero 7, Robin Guthrie, Amanda Blank, J Tillmann, Duran Duran (reedição), Sparklehorse + Fennesz, Q Tip,
Setembro – Pearl Jam, Madonna (best of), Duran Duran (DVD), Big Star (reedições), Nick Cave, Jan Garbarek (live), Hope Sandoval, Harmonia + Eno (reedição), Yoko Ono, The Dodos
Outubro – U2 (reedição), Ian Brown, Editors, David Bowie (reedição), Air, Ludovico Einaudi,Pixies (caixa)