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Home é um retrato realista de uma família contemporânea ou uma fábula sobre a evolução do nosso mundo?
É uma fábula contemporânea sobre a família. A abertura da auto-estrada, um mundo barulhento, perigoso, poluente e ameaçador, funciona como revelador de conflitos e doenças profundas. A fim de manter a unidade e a coesão familiar, cada personagem esconde os seus sofrimentos, “descendo” ao interior de si mesma, mergulhando na sua própria loucura.
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Não creio, de modo algum, que seja nostálgico. Quis mostrar uma família que se ama, porque Home é, antes do mais, um grande filme de amor. Até onde podemos ir por amor? Eles amam-se, talvez até demais: fundem-se entre si, como na cena em que dormem todos juntos, uns sobre os outros, no único quarto virado para o campo e, por isso, mais silencioso.
Considera que há felicidade nas suas personagens? Ou esta é uma história de desespero absoluto?
No começo, a família vive num pequeno paraíso, longe do mundo. O certo é que mostra já sinais de desequilíbrios, como a irmã mais velha de 18 anos que passa os dias a apanhar sol e a ouvir heavy metal altíssimo. Ninguém lhe diz: “Mexe-te! Vai arranjar trabalho! Põe a música mais baixo!” O mesmo se pode dizer da estranha mãe, interpretada por Isabelle Huppert, que nunca sai de casa, a não ser para ir esperar os filhos à paragem do autocarro. Home não é um “road movie”, mas a sua imagem invertida: a viagem é para os outros...