domingo, julho 19, 2009

Ecos um encontro há 500 anos

Versão editada de um texto publicado no DN, a 7 de Julho de 2009, com o título, "Ayutthaya quer novo museu sobre a presença portuguesa".

Imediatamente a sul da ilha que em tempos definia o coração da capital do reino do Sião morava a comunidade portuguesa que ali se instalou depois de estabelecida uma relação entre os dois povos, não muito tempo após o primeiro contacto, em 1511. Destruída por um ataque birmanês em 1767, a cidade de Ayutthaya ficou reduzida a escombros. O rei, corte e organismos oficiais deslocaram-se então para sul, estabelecendo nova capital em Banquecoque. E com os tailandeses também muitos dos portugueses que até então residiam em Ayutthaya caminharam para Banguecoque, instalando--se alguns no que é hoje o bairro de Santa Cruz, outros talvez juntando- -se aos que, desde o século XVII, viviam, na outra margem do rio, no bairro de Conceição.
Em Ayutthaya, contudo, permanece a memória da presença portuguesa. E recentes escavações arqueológicas começaram a devolver à luz do dia marcas concretas da mais antiga comunidade ocidental no reino de Sião, que chegou, a dada altura, a ter perto de mil habitantes.
À luz do dia, num local hoje musealizado, encontramos o que resta da igreja dominicana (foto que abre o post), uma das três que, à beira do rio Chao Phraya, serviam em tempos a comunidade portuguesa ali residente. Terminadas em 1984, as escavações junto a esta igreja revelaram não apenas as suas fundações e restos de paredes em tijolo vermelho, mas também uma série de esqueletos, alguns deles em exposição num edifício junto ao que resta do templo. As inundações de há 11 anos afectaram muito o espaço musealizado, tendo levantado as ossadas. Pelo que hoje parte do que se vê neste pequeno museu não são mais que moldes em resina. Duas ossadas reais estão contudo preservadas em vitrinas, acima do nível do solo, prevendo a eventualidade de nova inundação pelas águas do rio que corre poucos metros abaixo.
O director do museu explicou que é seu o desejo de poder construir um novo edifício para este museu, "talvez no próximo ano", estando neste momento "à procura de um financiamento junto do Governo tailandês". E falou de contactos com a Fundação Gulbenkian com vista a "uma possível ajuda neste orçamento". A construção em vista custaria perto de 160 mil euros (edifício), mas o director reconhece que precisa de juntar a essa soma mais 100 a 120 mil euros para cobrir todos os custos em vista. O novo museu ficaria situado entre o actual e o rio, e passaria a expor artefactos ali encontrados que estão guardados na reserva do museu da cidade, a não muitos quilómetros de distância, e que, por enquanto, não estão em exposição.

Não muito longe do local, uma recente campanha arqueológica revelou as fundações do que se pensava ser a igreja jesuíta. O director do museu atribui contudo as estruturas agora descobertas a um antigo templo budista (segunda imagem).
A terceira igreja, franciscana, continua ainda por localizar. Recentemente, agricultores acharam ossadas na zona que se pensa corresponder ao local onde terá existido em tempos. O terreno é hoje, contudo, uma propriedade privada. Pelo que a possibilidade de eventuais escavações existe, mas exigirá esforços oficiais para as viabilizar.