quinta-feira, julho 09, 2009

Discos da semana, 6 de Julho

É um projecto paralelo, mas na verdade vai além do facto de ser a soma simples da reunião entre o teclista dos Vampire Weekend e o vocalista dos Ra Ra Riot. É que em comum não partilham apenas o facto de serem elementos das bandas mais aclamadas entre as que nasceram em universidades do estado de Nova Iorque nos últimos anos. Na verdede um outro importante elo de ligação acaba por representar uma afinidade mais próxima da identidade pop que se manifesta no projecto Discovery: o facto de terem ambos passado pelo colectivo Dirty Projectors (a quem pedem de resto emprestada a voz de Angel Deradoorian para I Want To Be Your Boyfriend). O álbum que resulta deste encontro é claramente um dos mais entusiasmantes entre os editados nestas últimas semanas. Pop com letras maiúsculas, digital nas ferramentas, cerebral na concepção, mas absolutamente acessível na digestão. As canções deste álbum que simplesmente se chama LP desmontam uma série de marcas de identidade da pop e R&B da era Timbaland (e afins), visitam o electro e procuram numa lógica herdada do funk os modelos para entender outra forma de sugerir dinâmica rítmica a pequenas grandes canções. Como cereja sobre o bolo rumam contra uma corrente (que junta já nomes de Jay Z aos Death Cab For Cutie) que se manifesta contra o auto-tune… Usam e abusam desta ferramenta, seja ao serviço da transformação da voz de Ezra Koening (dos Vampire Weehend) na sua pontual participação em Carby, seja na espantosa reinvenção do clássico I Want You Back, dos Jackson 5, criada bem antes da onda de saudade que a morte de Michael Jackson lançou sobre a sua música. É um álbum refrescante, luminoso, optimista, convidadtivo e, à sua maneira, ousado. E, entre tantos acontecimentos, espantosamente arrumado (ou seja, leva a bom porto o que o último Of Monrteal deixou, desnorteado, a meio caminho). Sem dúvida um dos grandes acontecimentos pop do ano.
Discovery
“LP”

XL Recordings / Popstock
5 / 5
Para ouvir: MySpace


Desde que uma urgência médica o levou a abandonar a Reality Tour (há já cinco anos) a obra em disco de David Bowie tem-se limitado a uma mão cheia de antologias (nenhuma realmente marcante), reedições e uma série de colaborações em discos de terceiros (em concreto: Arcade Fire, TV on the Radio, Scarlett Johansson, Kashmir e David Gilmour)… Enquanto permanece a dúvida sobre a eventualidade da gravação de um novo álbum (não há planos oficiais em agenda), eis que entra finalmente em cena um disco que, mesmo feito de velhas canções, mostra uma nova forma de as embrulhar. Registado num estúdio de televisão nova-iorquino em 1999, VH-1 Storytellers não é mais que o programa, para a série com o mesmo título, que Bowie então apresentou no canal VH-1. Um serão de memórias, ora cantadas ora faladas, através das quais Bowie evocou alguns episódios de uma longa carreira, concentrando grande parte das histórias (e músicas) quer ali lembrou em factos e sons dos anos 60 e 70. O disco apresenta os 44 minutos do áudio da emissão televisiva (sem lhes retirar as palavras contadas, portanto). Como extra há um DVD com o programa, ao qual se juntam quatro temas adicionais. Se narrativamente é um retrato irreistível na primeira pessoa, musicalmente há aqui grandes momentos de reinvenção, nomeadamente as novas leituras de Life On Mars? ou Word On A Wing
David Bowie
“VH-1 Storytellers”

EMI
4 / 5
Para ouvir: MySpace


Nem vem do Alasca, nem estamos propriamente no Inverno… Mas contra propostas pop feitas de electrónicas e luminosidade estival que chegam com a presente temporada, este Holiday é antes, e apenas, um delicioso disco pop… para todas as estações. No centro da aventura Alaska In Winter está o norte-americano Brandon Bettancourt, natural do Novo México, que hoje vive e trabalha em Berlim. Holiday é o seu segundo álbum mas, apesar de pontualmente desafiar novamente a colaboração vocal do velho amigo Zach Condon (Beirut), segue por caminhos bem distantes dos que nos revelara na estreia, em 2007, em Dance Party In The Balkans, onde participava ainda Heather Tost (A Hawk and a Hacksaw)… Holiday é um álbum de simples e directa (bem directa mesmo) pop electrónica. Um paraíso melodista sem truques nem solavancos, onde o vocoder, arpejos e batidas metronómicas são recursos de estilo colocados ao serviço de belas canções. À distância sentem-se as presenças de referências, sobretudo dos pioneiros alemães que moram na raiz da identidade pop que aqui se revela. Holiday é o disco que Moby nunca soube fazer depois de Play. E, equidistante entre terrenos indie e pop mainstream, pode chamar atenções em vários sentidos…
Alaska In Winter
“Holiday”

Regularbeat Recordings / Compact
4 / 5
Para ouvir: MySpace


Iniciou uma carreira a solo ainda antes de tomar a decisão de se afastar dos Blur. Contudo, apesar de ter representado uma força criativa fulcral na banda que ajudou a criar, nunca a solo Graham Coxon nos deu um álbum ao nível do que a sua obra nos Blur atingira (ao contrário do companheiro Damon Albarn, com momentos de excepção assinados quer via Gorillaz quer através do colectivo The Good The Bad and The Queen). Firme na condução dos seus destinos, não deixa de ser curioso que, precisamente num momento em que o grupo faz notícia pelos concertos de reunião em solo britãnico, Graham Coxon edite novo disco a solo. The Spinning Top é o sétimo álbum de uma discografia nem sempre muito dada à supresa e até aqui essencialmente conduzida em terrenos alt rock. O novo disco não só propõe uma narrativa fragmentada na forma de canções (que em conjunto relatam a história de vida de um homem), como se aproxima de terrenos folk rock, evidenciando a obra de Nick Drake como aparente modelo de referência. Basta, de resto, escutar as linhas delicadas de Look Into The Light para sentir a presença da herança de um dos mais elegantes e emotivos escritores de canções de sempre. Talvez demasiado extenso, The Spinning Top revela mesmo assim sinais de interessante agitação criativa. A proximidade da reunião dos Blur, se calhar, fez-lhe bem…
Graham Coxon
“The Spinning Top”
Transgressive / Popstock
3 / 5
Para ouvir: MySpace


A voz e a figura de Beth Ditto são presença mais que visível no actual panorama indie pop. A força de Standing On The Edge Of Control, single-chave do album dos Gossip em 2006 que os colocou na linha da frente das atenções, revelou uma banda capaz de transportar a carga de uma melodia pop, temperada com alma negra, para a pista de dança. Music For Men é agora o disco que propõe um passo em frente. Ou seja, é um disco que tenta capitalizar não apenas o efeito encantatório que esse single de há três anos de facto lançou sobre as noites menos dadas à rigidez metronómica da house de segunda que muitas vezes por aí se escuta, como procura explorar a visibilidade mediática que o grupo entretanto capitalizou. Heavy Cross, o single que serviu de aperitivo ao álbum, mostrou cartas com trunfo em campeonato seguro. Indie pop com garra e fúria, cruzando melodia e apelo aos músculos das pernas… O alinhamento restante deste Music For Men revela, contudo, não apenas uma cansativa repetição de modelos, como uma muito irregular capacidade de, deles, fazer nascer canções igualmente memoráveis. Competente, é certo, mas raramente estimulante.
Gossip
“Music For Men”
Sony Music
2 / 5
Para ouvir: MySpace


Também esta semana:
Bombay Bycicle Club, Nick Lowe, Florence and The Machine, The Marvelettes, Chris Isaak, Regina Spektor

Brevemente:
13 de Julho: Dan Black, Paul Weller, VV Brown, Thomas Dolby (reedições), Hercules & Love Affair (Sidetracks)
20 de Julho: Riceboy Sleeps, Stephen Sondheim, Bill Frisell, Fiery Furnaces
27 de Julho: Chris Garneau, Cass McCombs, A-ha

Agosto: Arctic Monkeys, Julian Plenti, Dolores O’Riordan, Stone Roses (Collectors Edition), Modest Mouse, Wild Beasts
Setembro: Duran Duran (reedições + DVD), Beatles (reedições), Apples In Stereo, Yo La Tengo, Zero 7, Sondre Lerche, Damon & Naomi, Beastie Boys, The Dodos