Herman José regressou à televisão num concurso de grande pobreza espectacular: é um sinal da televisão que (não) temos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (17 de Julho), com o título 'A "questão" Herman'.
O concurso Nasci P'ra Cantar (TVI) é uma concretização rudimentar das promessas de “sucesso” individual que, hoje em dia, comandam a máquina televisiva. Nele podemos assistir a confrangedoras imitações de figuras nacionais e estrangeiras do mundo musical, ao mesmo tempo que a banalidade de tais imitações é consagrada como uma grande proeza “artística” (sublinhada pelas mais caricatas formas de paternalismo, incluindo a lírica exaltação do “trabalho” e a vivência de conto de fadas de cada “família”).
Por vezes, precisamos de sarcasmo para sobreviver ao entorpecimento que nos impõem. Por mero sarcasmo, diga-se, então, que este é um programa a que podemos reconhecer os méritos da dialéctica, uma vez que Nasci P’ra Cantar possui, pelo menos, as qualidades de uma perversa pedagogia: afinal de contas, as imitações de Tony Carreira ou João Pedro Pais podem ser tão boas como os originais, quiçá melhores...
No meio de tudo isto está, como apresentador, uma das pedras preciosas do nosso entertainment: Herman José. E é uma depressão imensa observar como o seu talento entrou no limbo do subaproveitamento. Não que eu pretenda julgar a pessoa. Fulanizar a “questão” Herman é mesmo passar ao lado do essencial: parece-me irrelevante montar processos de intenção e grosseiro transformar a praça pública em “tribunal” das vedetas populares. Além de que qualquer profissional, em qualquer área, tem toda a legitimidade para fazer as escolhas que muito bem entender.
Herman a apresentar Nasci P’ra Cantar não passa de um sinal, entre muitos, da metódica e agressiva formatação da paisagem televisiva. Passa-se o mesmo, por exemplo, com talentosos actores afogados nas rotinas das telenovelas. O que choca não são as escolhas individuais, mas a incapacidade do espaço televisivo para defender, preservar e, se possível, ajudar a desenvolver as qualidades dos seus profissionais. O que choca é a súbita irrupção de três mágicos segundos em que Herman imita os Bee Gees (ou empurra uma senhora para fora do enquadramento!) e a sensação de desperdício que perpassa no ecrã. De facto, o populismo televisivo serve-se com muito ruído e cores agressivas, mas a sua tristeza gela a alma.
O concurso Nasci P'ra Cantar (TVI) é uma concretização rudimentar das promessas de “sucesso” individual que, hoje em dia, comandam a máquina televisiva. Nele podemos assistir a confrangedoras imitações de figuras nacionais e estrangeiras do mundo musical, ao mesmo tempo que a banalidade de tais imitações é consagrada como uma grande proeza “artística” (sublinhada pelas mais caricatas formas de paternalismo, incluindo a lírica exaltação do “trabalho” e a vivência de conto de fadas de cada “família”).
Por vezes, precisamos de sarcasmo para sobreviver ao entorpecimento que nos impõem. Por mero sarcasmo, diga-se, então, que este é um programa a que podemos reconhecer os méritos da dialéctica, uma vez que Nasci P’ra Cantar possui, pelo menos, as qualidades de uma perversa pedagogia: afinal de contas, as imitações de Tony Carreira ou João Pedro Pais podem ser tão boas como os originais, quiçá melhores...
No meio de tudo isto está, como apresentador, uma das pedras preciosas do nosso entertainment: Herman José. E é uma depressão imensa observar como o seu talento entrou no limbo do subaproveitamento. Não que eu pretenda julgar a pessoa. Fulanizar a “questão” Herman é mesmo passar ao lado do essencial: parece-me irrelevante montar processos de intenção e grosseiro transformar a praça pública em “tribunal” das vedetas populares. Além de que qualquer profissional, em qualquer área, tem toda a legitimidade para fazer as escolhas que muito bem entender.
Herman a apresentar Nasci P’ra Cantar não passa de um sinal, entre muitos, da metódica e agressiva formatação da paisagem televisiva. Passa-se o mesmo, por exemplo, com talentosos actores afogados nas rotinas das telenovelas. O que choca não são as escolhas individuais, mas a incapacidade do espaço televisivo para defender, preservar e, se possível, ajudar a desenvolver as qualidades dos seus profissionais. O que choca é a súbita irrupção de três mágicos segundos em que Herman imita os Bee Gees (ou empurra uma senhora para fora do enquadramento!) e a sensação de desperdício que perpassa no ecrã. De facto, o populismo televisivo serve-se com muito ruído e cores agressivas, mas a sua tristeza gela a alma.