Num dia de um futuro próximo — em boa verdade, já hoje — teremos que reagir contra a facilidade generalizada com que real e virtual são referidos como elementos de uma dicotomia clara e sem alternativa. Dito de outro modo: teremos que começar a pensar o que significa reconhecermos o virtual como uma parte do real (onde sempre esteve, afinal).Para já, fixemo-nos neste Projecto Natal da Microsoft. Mais concretamente, a Microsoft tem estado a desenvolver a sua consola de jogos Xbox 360 no sentido de criar uma "experiência de jogo e entertainment" que se pretende inovadora ao ponto de já não existir... consola. Como funciona, então? Com um sensor que actua a partir dos comandos humanos, sejam eles os gestos ou a voz. Eis o espantoso video promocional.
Não se trata, entenda-se, de uma mera hipótese mais ou menos futurista para eventual desenvolvimento. Em boa verdade, o Projecto Natal está, desde o início, ligado a estruturas e criadores da indústria americana do entertainment, contando mesmo com Steven Spielberg como um dos seus principais mentores. Esta conversa com Don Mattrick (Xbox/Microsoft) e Spielberg, difundida pela BBC, é esclarecedora.
Que está, afinal, a acontecer? No meio de dúvidas, perplexidade e fascínio, podemos enunciar três certezas:
1. FRONTEIRAS - as fronteiras clássicas cinema/televisão/com-putadores vão, todas elas, definitivamente, ser postas em causa;
2. CONSUMOS - os (des)equilíbrios entre consumo público e consumo privado serão, também eles, reconfigurados, por certo gerando novos modelos de relação (social, familiar, profissional, etc.);
3. CORPOS - surgirão novas e inusitadas relações do nosso corpo com a tecnologia, logo com os seus modos de apropriação/habitação do real — para aplicar a herança filosófica de Roland Barthes, talvez possamos dizer, de modo impreciso, mas sugestivo, que o nosso corpo vai ter novas ideias.
>>> Site oficial do Project Natal.