terça-feira, junho 09, 2009

Nuno Bragança: deste mundo e dos outros

FOTO Gérard Castello Lopes
[fragmento ampliado]

>>> Criado embora entre hálitos de faisão, cedo me especializei na arte de estender os braços. Dia após dia os mais laboriosos, cansativos forcejos projectavam meus membros anteriores em-frentemente. E isto assim até que perdi as mãos de vista.<<<

Assim começa A Noite e o Riso (1969), obra-prima da literatura portuguesa em que intimidade e medo se aliam numa vertigem capaz de deslocar todas as fronteiras de todas as realidades, impondo uma escrita pudicamente empenhada em redesenhar o mapa das galáxias. O seu autor, Nuno Bragança (1929-1985), teria completado 80 anos no passado dia 12 de Fevereiro. A sua Obra Completa (Dom Quixote) surgiu como um sinal de sóbria comemoração, friamente ignorado pelo país afogado noutras ficções e suas dantescas realidades. É a oportunidade de ler ou reler um autor cuja escrita possui a tenacidade de um arquitecto de palavras, angustiado pelas cidades que tece entre frases e corpos, pressentindo uma utopia do avesso, interior e inomeável.
O volume consta de:
— A NOITE E O RISO (1969), romance
— DIRECTA (1977), romance
— SQUARE TOLSTOI (1981), romance
— ESTAÇÃO (1984), contos
— DO FIM DO MUNDO (1990), novela póstuma
— A MORTE DA PERDIZ (1956), peça de teatro radiofónico, inédita em livro