Entre nós estreou com o título Deixa-me Entrar (no original Lat Den Rätte Komma In) e mostra como o que parece ser uma “tendência” não implica necessariamente a descaracterização de quem tem personalidade própria perante uma multidão ávida de mais do mesmo. Trocando a coisa por ideias concretas… O mito do vampiro, com história antiga, tem conhecido no cinema (como na literatura de terror) várias e sucessivas actualizações. Do Nosferatu de Murnau às adaptações, nos anos 90, de livros de Bram Stoker (por Coppola) e Anne Rice (por Neil Jordan), as histórias de vampiros exploraram, além de um código de imagens e medos, um registo que, salvo raras excepções, nunca se afastou muito dos princípios fundamentais do cinema de terror e suas periferias (curiosamente, o Drácula, de Bram Stoker, mais que um romance de medos, é acima de tudo uma história de amor). No ano passado, Catherine Hardwicke cruzou esta herança com os condimentos ‘Bravo’ e nasceu um novo fenómeno, com alguns outros filmes de vampiros com gente nova já na calha… Aos ecrãs portugueses chega agora este filme do sueco Tomas Alfredson… Mas quem comprar o bilhete a pensar que vai ver um primo de Crepúsculo com dentada em sueco sairá da sala enganado…
Deixa-me Entrar não é um filme de terror. Usa antes figuras e linguagens do cinema de terror para contar uma história de solidão e de inadaptação. No centro da acção um rapaz frágil, alvo da violência de colegas de escola. E uma rapariga, uma vizinha que encontra de noite. Tão só e desencantada como ele… Uma vampira que não nos revela nunca a idade, mas que há muito conhece o mundo. É do jogo entre a sociedade e os dois seres desenquadrados que fala o filme, que complementa um belíssimo argumento com boa fotografia realista, uma realização seca e um magnífico elenco.