Na sexta-feira à noite, no programa Diga Lá, Excelência, José Eduardo Moniz, director da TVI, foi entrevistado por Raquel Abecassis e José Manuel Fernandes. Os resultados foram gloriosamente deprimentes. E não exactamente por causa do entrevistado — seja o que for que pensemos sobre a ideologia mediática de Moniz, ele é um profissional de convicções e isso transforma-o, como é óbvio, em alguém que é sempre interessante escutar.
Acontece que prevaleceu o tom corrente segundo o qual se entrevistam pessoas para que elas confirmem o "mal" que sobre elas se diz... Aparentemente, na sua candura, os entrevistadores acreditaram que, se confrontassem Moniz, por exemplo com os pareceres da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, ele diria qualquer coisa como: "Sim, sim, a ERC tem toda a razão em atacar a TVI..." Aliás, na sua frontalidade, Moniz não escondeu que está contra a ERC, desde o processo da sua génese. Esperava-se que, jornalisticamente, alguém lhe pedisse: "Tendo em conta que a ERC é tida como um elemento nuclear na defesa da deontologia jornalística, explique-nos, por favor, porque desvaloriza a sua existência." Não aconteceu.
Na prática, este é um modo de lidar com as personalidades públicas como se um entrevistado se esgotasse naquilo que sobre ele se diz (e fosse forçado a apenas existir em função daquilo que sobre ele se diz). É o "discurso de rua" promovido à condição de padrão jornalístico de reflexão. E havia muitos temas interessantíssimos sobre os quais teria sido interessante escutar Moniz. Lembro três:
1) - Conceitos de informação: o triunfo de um jornalismo televisivo (não apenas na TVI e não apenas nas televisões) que privilegia a fulanização dos políticos, exponencia o significado dos fait divers e secundariza todos os temas culturais em proveito de uma visão maniqueísta do mundo do futebol.
2) - O triunfo da reality TV: desde o Big Brother (TVI), a visão das relações humanas como anedóticas e descartáveis contaminou todas as áreas televisivas, incluindo a informação.
3) - A formatação das ficções: com o domínio profissional e criativo da telenovela (de que a TVI é um dos principais elos económicos), todas as outras áreas de ficção audiovisual foram submetidas a uma marginalização que vai da produção à oferta.
... Também não aconteceu.