O mais lendário intérprete de Robin dos Bosques foi recentemente evocado na televisão portuguesa — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 de Junho), com o título 'Do cinema como resto'.
No sábado, dia 20, a RTP2 dedicou várias horas da sua emissão a Errol Flynn. Motivo: o assinalar do centenário da data do seu nascimento. Assim, foi possível ver um documentário sobre o lendário actor de Hollywood e ainda dois dos títulos mais emblemáticos da sua vasta filmografia: O Gavião dos Mares (1940), de Michael Curtiz, e O Rebelde Aventureiro (1952), de William Keighley.
Na devastada paisagem do cinema nos nossos canais generalistas, este acontecimento serviu também de lembrança do muito que deixou de se fazer (e programar). Não são apenas os filmes que, com pouquíssimas excepções, passaram a ser “imagem para canhão”, umas vezes preenchendo heróicas madrugadas, outras amontoando-se em tardes de critério inconsistente. De um modo geral, o cinema passou a ser entendido (e programado) como um resto mais ou menos irrisório, porventura dispensável, em tudo e por tudo contrário ao lugar que continua a ocupar nos mercados e no imaginário popular.
O exemplo de Errol Flynn é tanto mais interessante quanto, de facto, está longe de se esgotar na sua dimensão estritamente cinéfila. Será um dado irrelevante para programadores, mas a procura de clássicos ou filmes mais ou menos “antigos” tornou-se uma componente importante do mercado audiovisual. Em particular no DVD, tem-se registado em todo o mundo (e Portugal não é excepção) um crescimento exponencial nas edições de títulos clássicos da história do cinema. E não consta que sejam apenas três ou quatro obcecados críticos de cinema que fazem o sucesso de muitos desses títulos...
Infelizmente, o drama é mais vasto, superando o problema específico do cinema e respectiva difusão. O que está em jogo é o metódico apagamento das memórias, sobretudo do prazer de descoberta e do gosto de conhecimento que essas memórias possam envolver. Tal prática tende a favorecer alguns lamentáveis preconceitos, a começar por esse, obsceno entre todos, segundo o qual os filmes a preto e branco são um acidente mais ou menos anedótico da história do cinema... Tudo isso só pode multiplicar o valor prático e simbólico de acontecimentos como este reencontro com Errol Flynn.
No sábado, dia 20, a RTP2 dedicou várias horas da sua emissão a Errol Flynn. Motivo: o assinalar do centenário da data do seu nascimento. Assim, foi possível ver um documentário sobre o lendário actor de Hollywood e ainda dois dos títulos mais emblemáticos da sua vasta filmografia: O Gavião dos Mares (1940), de Michael Curtiz, e O Rebelde Aventureiro (1952), de William Keighley.
Na devastada paisagem do cinema nos nossos canais generalistas, este acontecimento serviu também de lembrança do muito que deixou de se fazer (e programar). Não são apenas os filmes que, com pouquíssimas excepções, passaram a ser “imagem para canhão”, umas vezes preenchendo heróicas madrugadas, outras amontoando-se em tardes de critério inconsistente. De um modo geral, o cinema passou a ser entendido (e programado) como um resto mais ou menos irrisório, porventura dispensável, em tudo e por tudo contrário ao lugar que continua a ocupar nos mercados e no imaginário popular.
O exemplo de Errol Flynn é tanto mais interessante quanto, de facto, está longe de se esgotar na sua dimensão estritamente cinéfila. Será um dado irrelevante para programadores, mas a procura de clássicos ou filmes mais ou menos “antigos” tornou-se uma componente importante do mercado audiovisual. Em particular no DVD, tem-se registado em todo o mundo (e Portugal não é excepção) um crescimento exponencial nas edições de títulos clássicos da história do cinema. E não consta que sejam apenas três ou quatro obcecados críticos de cinema que fazem o sucesso de muitos desses títulos...
Infelizmente, o drama é mais vasto, superando o problema específico do cinema e respectiva difusão. O que está em jogo é o metódico apagamento das memórias, sobretudo do prazer de descoberta e do gosto de conhecimento que essas memórias possam envolver. Tal prática tende a favorecer alguns lamentáveis preconceitos, a começar por esse, obsceno entre todos, segundo o qual os filmes a preto e branco são um acidente mais ou menos anedótico da história do cinema... Tudo isso só pode multiplicar o valor prático e simbólico de acontecimentos como este reencontro com Errol Flynn.