sexta-feira, junho 26, 2009

Crónicas da Tailândia (3)

Continuamos a apresentar a série de dez crónicas publicadas no DN no âmbito de uma viagem à Tailândia que antecipa as comemorações dos 500 anos do primeiro encontro entre portugueses e tailandeses. Este texto foi publicado no DN a 16 de Junho com o título "Netos e bisnetos dos fios de ovos".

Andar pelo sempre agitado mercado PaK Khlong Talad, em pleno centro de Banguecoque, é uma experiência invulgar de muitos cheiros e cores. Está aberto 365 dias por ano, e nunca fecha as portas de dia ou de noite, às segundas-feiras evitando contudo ocupar as ruas para uma limpeza geral dos espaços. Ao lado passam táxis de todas as cores, do rosa ao laranja, do azul ao amarelo. Nas várias bancas vendem-se frutas, flores (com o cheiro doce do jasmim a destacar-se), bebidas em garrafa, comidas feitas na hora…
Não faltam os doces. E não há banca de sobremesas que não mostre, devidamente empacotados, deliciosos doces de ovos. Descendentes da doçaria portuguesa, os “foi thong” (fios de ovos) , os “thong yib” (em forma de flor) e “thong yod” (não cozinhados) são muito considerados entre os tailandeses e comprados para ocasiões especiais. Casamentos, a estreia de nova casa, funerais ou a ordenação de um filho como monge são motivo para comprar doces de ovos com genética portuguesa. No centro do mercado, um altar mostrava que esta era também uma opção “cara” para eventual oferenda. São uma comida “abençoada”, explica quem os vende, apontando as semelhanças entre o seu amarelo forte e o dourado dos templos.
Prasit e Boonsri, a sua mulher, são donos de uma venda de doces em plena rua. Sabem que têm origem portuguesa, mas confessam que não são eles quem os confecciona. São feitos em fábricas, onde os compram. Os ovos? De pata e não de galinha (talvez o facto sublinhe a discreta diferença face aos ancestrais portugueses). E são hoje menos açucarados que no passado. “Por causa da diabetes”, explicam… Estes doces de ovos são populares entre os taliandeses. E há mesmo quem, antes de dizer o nome de Figo ou Cristiano Ronaldo, ao ouvir falar de portugueses mencione antes que vêm do país das “boas sobremesas”.
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A foto de cima mostra Boonsri junto à sua banca de venda de doces. Na segunda foto, um olhar de pormenor sobre os doces de ovos, de ascendência portuguesa, que ali vende.