sexta-feira, junho 12, 2009

Cristiano Ronaldo: a pandemia

12 de Junho de 2009: a primeira página do jornal The Star, de Kuala Lumpur (Malásia), resume a bizarra ironia de muitas manchetes de jornais de todo o mundo — no mesmo dia em que a Organização Mundial de Saúde declarava a situação de pandemia da gripe A (H1N1), os destinos da humanidade eram abalados pelos milhões da transferência de Cristiano Ronaldo do Manchester para o Real Madrid (sintoma inequívoco: Ronaldo é também um dos dois temas de topo da primeira página de The Wall Street Journal).
Na verdade, há um efeito pandémico do próprio dinheiro, como se já só sentíssemos que as fronteiras do real se podem deslocar quando esse dinheiro impõe, de forma mais ou menos brutal, os sinais da sua circulação. No campo do cinema, hélas!, acontece exactamente o mesmo: a maioria dos novos "cinéfilos" são especialistas em números de bilheteira...
Folow the money... Nenhuma moral, cândida ou cínica, nos pode ajudar a lidar de forma serena com tal conjuntura porque, além do mais, como é óbvio, a condenação das suas estrelas será um gesto pueril e inconsequente. Uma coisa é certa: enquanto assistimos, na primeira fila, à destruição do planeta, continuamos a celebrar o movimento do dinheiro. Será este o fetichismo do capital para o qual Marx, muito antes das monstruosidades que se cometeram em seu nome, nos avisou?