Saving Grace é uma das melhores séries televisivas da actualidade, sempre na corda bamba entre o realismo mais cru e uma dimensão fantástica e onírica, porventura transcendental — este texto foi publicado no Diário de Notícias (29 de Maio), com o título 'O anjo de Oklahoma'.
A evolução da série Saving Grace (Fox Life), uma criação de Nancy Miller com Holly Hunter no papel de uma detective da polícia de Oklahoma City, é um surpreendente caso de inteligência e contenção. Dir-se-ia que o próprio dispositivo original não poderia resistir muito para além do imediato efeito de surpresa. De facto, como sustentar o tom cru de série policial, ao mesmo tempo que a personagem central, Grace Hanadarko, é alguém que recebe as visitas regulares de Earl (Leon Rippy), um anjo que tenta redimi-la dos seus pecados?
O certo é que, já em plena segunda temporada, Saving Grace conseguiu a proeza de manter a sua lógica inicial, sem alienar nenhuma das componentes originais. A mais discreta, porventura também a mais intensa, dessas componentes tem a ver com a memória do atentado terrorista perpetrado em 1995 por Timothy McVeigh, veterano do exército dos EUA, que matou 168 pessoas e feriu mais de 800 (foi, até ao 11 de Setembro de 2001, o mais violento acto terrorista em território americano). De facto, por Saving Grace perpassa o sentimento amargo de uma comunidade ainda à procura da recomposição dos seus laços afectivos e simbólicos. Obviamente, com a sua existência convulsiva, a própria Grace surge como uma figura frágil e errática, paradoxalmente a tentar fazer valer algum princípio de ordem social e também os valores da solidariedade humana.
Deste modo, Saving Grace escapa por completo ao moralismo de muitas narrativas televisivas (veja-se a miséria formal a que chegaram as telenovelas) que tudo encenam em função de uma noção de “pureza” que, em boa verdade, ninguém sabe enunciar. Bem pelo contrário, Saving Grace é uma história de gente maravilhosamente “impura”, isto é, comovente e próxima de nós. Incluindo o anjo.
A evolução da série Saving Grace (Fox Life), uma criação de Nancy Miller com Holly Hunter no papel de uma detective da polícia de Oklahoma City, é um surpreendente caso de inteligência e contenção. Dir-se-ia que o próprio dispositivo original não poderia resistir muito para além do imediato efeito de surpresa. De facto, como sustentar o tom cru de série policial, ao mesmo tempo que a personagem central, Grace Hanadarko, é alguém que recebe as visitas regulares de Earl (Leon Rippy), um anjo que tenta redimi-la dos seus pecados?
O certo é que, já em plena segunda temporada, Saving Grace conseguiu a proeza de manter a sua lógica inicial, sem alienar nenhuma das componentes originais. A mais discreta, porventura também a mais intensa, dessas componentes tem a ver com a memória do atentado terrorista perpetrado em 1995 por Timothy McVeigh, veterano do exército dos EUA, que matou 168 pessoas e feriu mais de 800 (foi, até ao 11 de Setembro de 2001, o mais violento acto terrorista em território americano). De facto, por Saving Grace perpassa o sentimento amargo de uma comunidade ainda à procura da recomposição dos seus laços afectivos e simbólicos. Obviamente, com a sua existência convulsiva, a própria Grace surge como uma figura frágil e errática, paradoxalmente a tentar fazer valer algum princípio de ordem social e também os valores da solidariedade humana.
Deste modo, Saving Grace escapa por completo ao moralismo de muitas narrativas televisivas (veja-se a miséria formal a que chegaram as telenovelas) que tudo encenam em função de uma noção de “pureza” que, em boa verdade, ninguém sabe enunciar. Bem pelo contrário, Saving Grace é uma história de gente maravilhosamente “impura”, isto é, comovente e próxima de nós. Incluindo o anjo.