Como é que os filmes (sobre)vivem entre as salas e o DVD? Nem sempre bem... Vale a pena registar o exemplo de Os Savages — este texto foi publicado no Diário de Notícias (1 de Maio), com o título 'O amor pelo cinema'.
Recentemente, num dos canais de cinema do cabo (TV Cine), descobri o filme Os Savages, escrito e realizado por Tamara Jenkins. É um belo exercício melodramático centrado numa família (de apelido Savage) com tanto de banal como de excepcional. A história desencadeia-se a partir da situação de um homem (Philip Bosco) com uma velhice agonizante: o filho (Philip Seymour Hoffman) e a filha (Laura Linney), distantes no mapa e sobretudo nos afectos, são subitamente confrontados com a necessidade de acompanhar os dias finais do pai, desse modo deparando com os restos de uma vida tecida de muitos silêncios e continuadas ausências.
Tinha ideia que perdera este filme nas salas. Mas não. Fui confirmar e verifiquei que Os Savages não chegou a estrear entre nós. Produzido em 2007, foi lançado em DVD em meados de 2008 e... por aí ficou. A sua situação de relativo esquecimento (comercial, antes do mais) acaba por ser sintomática de um estado de coisas em que a vida dos filmes com menor protecção promocional parece reduzir-se a um “anonimato” mais ou menos heróico, favorecido pela indiferença do mercado das salas e duplicado pelas rotinas das programações televisivas.
Porque, entenda-se, ninguém espera que os filmes seja promovidos em função dos juízos críticos que possam suscitar. Nada disso. Acontece que estamos a falar de um título que integrou a lista dos melhores de 2007 estabelecida pelo American Film Institute. Mais do que isso: Os Savages teve duas nomeações para os Oscars (Laura Linney para melhor actriz e Tamara Jenkins na categoria de melhor argumento original), além de contar com Philip Seymour Hoffman, actor já “oscarizado” por Capote (2005).
Quer isto dizer que alguns factores tradicionais de evidente prestígio já não bastam para que um filme adquira algum protagonismo nos espaços de circulação dos produtos cinematográficos. O exemplo é tanto mais perturbante quanto, insisto, está muito longe de ser um caso isolado. Assim, não surpreende que os valores clássicos da cinefilia sejam cada vez mais frágeis na massa de espectadores “dominada” pelas campanhas mais fortes. O que é a cinefilia? À letra: o amor pelo cinema. Ou ainda: o desejo da descoberta.
Recentemente, num dos canais de cinema do cabo (TV Cine), descobri o filme Os Savages, escrito e realizado por Tamara Jenkins. É um belo exercício melodramático centrado numa família (de apelido Savage) com tanto de banal como de excepcional. A história desencadeia-se a partir da situação de um homem (Philip Bosco) com uma velhice agonizante: o filho (Philip Seymour Hoffman) e a filha (Laura Linney), distantes no mapa e sobretudo nos afectos, são subitamente confrontados com a necessidade de acompanhar os dias finais do pai, desse modo deparando com os restos de uma vida tecida de muitos silêncios e continuadas ausências.
Tinha ideia que perdera este filme nas salas. Mas não. Fui confirmar e verifiquei que Os Savages não chegou a estrear entre nós. Produzido em 2007, foi lançado em DVD em meados de 2008 e... por aí ficou. A sua situação de relativo esquecimento (comercial, antes do mais) acaba por ser sintomática de um estado de coisas em que a vida dos filmes com menor protecção promocional parece reduzir-se a um “anonimato” mais ou menos heróico, favorecido pela indiferença do mercado das salas e duplicado pelas rotinas das programações televisivas.
Porque, entenda-se, ninguém espera que os filmes seja promovidos em função dos juízos críticos que possam suscitar. Nada disso. Acontece que estamos a falar de um título que integrou a lista dos melhores de 2007 estabelecida pelo American Film Institute. Mais do que isso: Os Savages teve duas nomeações para os Oscars (Laura Linney para melhor actriz e Tamara Jenkins na categoria de melhor argumento original), além de contar com Philip Seymour Hoffman, actor já “oscarizado” por Capote (2005).
Quer isto dizer que alguns factores tradicionais de evidente prestígio já não bastam para que um filme adquira algum protagonismo nos espaços de circulação dos produtos cinematográficos. O exemplo é tanto mais perturbante quanto, insisto, está muito longe de ser um caso isolado. Assim, não surpreende que os valores clássicos da cinefilia sejam cada vez mais frágeis na massa de espectadores “dominada” pelas campanhas mais fortes. O que é a cinefilia? À letra: o amor pelo cinema. Ou ainda: o desejo da descoberta.