Vários compositores dedicaram grande parte da sua obra à expressão de uma devoção de cariz religioso. Messiaen é frequentemente apontado como um dos exemplos maiores de uma relação artística com a transcendência entre os compositores do século XX. Não é caso único e o britânico John Tavener (n. 1944) é autor de uma obra que toma a sua fé igualmente como referência central a muitas das composições. Membro da igreja Ortodoxa, Tavener conta entre as peças de referência com uma obra para orquestra, violoncelo solista e um soprano que reflecte sobre a protecção da Mãe de Deus, referência concreta a um dos dias santos no calendário ortodoxo. The Protecting Veil é uma das obras mais vezes gravadas entre o repertório de Tavener e nasceu de uma encomenda feita em finais dos anos 80 pela BBC, tendo os Proms (concertos promenade) como primeiro destino. A estreia ocorreu nos Proms de 1989, com a London Symphony Orchestra, com o viloncelista Steven Isserlis como solista). Entre as gravações disponíveis conta-se uma, pela Orquestra do Ulster, dirigida por Takuo Yuasa, com Maria Kliegel (violoncelo) e Eileen Hulse (soprano), editada em 1999 pela Naxos.
John Tavener nasceu em Londres em 1944 e é descendente diecto do compositor britânico do século XVI John Taverner. Ganhou nototiedade em finais dos anos 60 quando estreou a cantata The Whale, com a London Sinfonietta, obra que em 1968 gravou e editou pela Apple Records, onde lançou outras peças pouco depois. Nos anos 70 interessou-se pela igreja ortodoxa, convertendo-se a ela em 1977. A sua música é muitas vezes comparada à de Arvo Pärt mas na verdade a eventual proximidade não vai muito além da relação entre a obra e a religião e algumas afinidades formais (que mesmo assim o integram por vezes entre a “família” de autores de uma área muitas vezes designada por minimalismo sagrado). A obra de Tavener transcende muitas vezes as fronteiras de género e comunica para vários públicos com facilidade. Em 2004 chamou Björk para com ela gravar Prayer Of The Heart (editada em disco no catálogo da Naxos), na verdade um das mais interessantes momentos da obra da cantora na presente década. A sua obra recente mantém a fé como centro gravítico, mas alargou horizontes a reflexões sobre outras religiões.
Como explicam as notas no booklet da edição de 1999 de The Protecting Veil, na Naxos, esta obra revela uma música “intensamente estilizada, geometricamente formada e de carácter meditativo”. Há uma ligação directa entre a obra e a evocação da Mãe de Deus, segundo a tradição de uma festa ortodoxa que remonta ao início do século X. A festa assinala uma visão que terá dado força e protecção aos cristãos, nas vésperas de um confronto militar que terminou com uma derrota dos sarracenos. John Tavener tenta, como descreve o texto, “captar o que considera ser o poder quase cósmico da Mãe de Deus”, que na música é representada pelo som do violoncelo. The Protecting Veil é uma obra frequentemente apresentada em versão de concerto. A imagem (em cima) documenta uma experiência recente com músicos da orquestra da BBC e estudantes de dança da Universidade de Stanford, criando juntos uma abordagem de música e dança a esta composição de Tavener.
Imagens de uma animação digital qure toma como banda sonora um dos momentos de The Protecting Veil, de John Tavener.