Iniciamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Andrew Fletcher (à esquerda, na imagem), dos Depeche Mode, que serviu de base a um artigo publicado no DN a 15 de Abril (e que está também disponível no DN online).
Além da necessidade de fazer novas canções, neste disco parece que procuraram também novos sons. Não será exactamente um retorno às origens, mas podemos falar deste como o disco em que as electrónicas regressam a um estatuto de maior protagonismo na música dos Depeche Mode?
Trabalhámos com uma equipa de profissionais. E é verdade que tentámos fazer com que as coisas fossem interessantes, procurando novos sons. E isso na verdade sempre fez parte da essência do que são os Depeche Mode. E aconteceu sobretudo numa etapa a meio da nossa carreira... Foi muito interessante o processo criativo deste disco. Este foi mesmo um álbum muito agradável de fazer. Divertimo-nos muito. E isso vê-se muito nos videoclips [que foram disponibilizando no seu site, criando um making of do álbum]. Na verdade esse retrato que os clips mostram nem resulta de uma selecção que tivéssemos de fazer. Aquilo foi mesmo o que aconteceu todos os dias. Parecíamos uns sete miúdos de escola em estúdio, a experimentar ideias. Na verdade até estávamos numa posição muito interessante. O Martin [Gore] deixou de beber há três anos e meio. E quando começou a escrever em 2007 não sabia se isso ia afectar o seu trabalho de escrita. Esse é, de resto, um dos grandes dramas dos autores de canções... Sentem que pode depois faltar qualquer coisa. Mas o que aconteceu foi precisamente o contrário. E revelou-se inclusivamente muito prolífico. Trouxe a estúdio, para que as gravássemos, aí umas 20 canções. E o Dave [Gahan] acrescentou quatro canções deles. Com os Depeche Mode o processo é assim: as canções são escritas antes de entrar em estúdio e, depois, o trabalho que fazemos é este... O fazer de cada canção, a procura de uma atmosfera, de um estado de alma... Além, claro está, da gravação das vozes e dos instrumentos mais orgânicos. Estávamos assim naquela posição privilegiada de trabalho que nos permitia então avançar pelas canções, gastar uns dois ou três dias em cada uma, avançar para a seguinte, mais tarde eventualmente regressando a esta ou aquela. E tínhamos estas grandes canções, pelo que não estávamos com aquelas outras preocupações habituais de outros tempos, quando muitas vezes o Martin tinha de compor canções entre as sessões de gravação, quando havia também aquela preocupação de que eventualmente não tivéssemos canções suficientes... Estávamos em tempo de abundância de canções quando entrámos em estúdio para fazer este álbum. E tudo isto teve como consequência o fazer de toda a etapa de gravação um período mesmo divertido.
Foram disponibilizando pequenos filmes que nos mostraram o ambiente de estúdio. Era vosso desejo o mostrar dos bastidores do vosso processo criativo?
Não apenas a revelação do processo criativo, mas também para mostrar que somos pessoas com personalidades distintas, mostrando de facto como somos. Há quem diga muitas vezes que somos uns tipos meio sombrios e pessimistas... Talvez seja verdade o facto de estarmos no lado mais negro da música pop. Mas isso não quer dizer que, como pessoas, sejamos aborrecidos, ou sombrios ou pessimistas... Temos mesmo um certo sentido de humor...
Há aquela distância entre o artista e a obra...
Mas os nossos fãs são o nosso valor acrescentado. São quem nos faz entrar em estúdio para produzir o que queremos. Sabemos que temos muitos fãs. Fãs leais...
No vosso site oficial há um espaço dedicado à memória no qual recordam o que, a cada dia, aconteceu na vida dos Depeche Mode... Trabalhar essa quantidade de acontecimentos, arrumá-los como uma cronologia, lembrou-vos que se aproximava a data em que vão celebrar os 30 anos de carreira?...
Os 30 anos… A dada altura tomámos consciência de que íamos celebrar os 30 anos de trabalho como Depeche Mode no próximo ano. Meu Deus!... Lá vêm os velhos, poderíamos ter pensado em tempos... Mas na verdade podemos ver antes a história de um outro ângulo mais positivo, verificando que resistimos 30 anos e mantemo-nos relevantes e a fazer alguns dos maiores concertos de sempre de toda a nossa carreira.
Sem nunca se terem separado nem reunido...
Sim, sem nunca nos termos separado nem reunido. Por isso sentimos que foi mesmo bom termos começado quando éramos muito novos...
Esta entrevista integra um dossier sobre os Depeche Mode que está disponível. no DN online. O dossier pode ser consultado aqui.