Depois de Jacques Audiard (Un Prophète), Alain Resnais (Les Herbes Folles) e Xavier Giannoli (À l'Origine), terminou a representação francesa no 62º Festival de Cannes com Enter the Void, de Gaspar Noé -- foi o menos interessante dos quatro filmes e também um sintoma dos equívocos "técnicos" de algum cinema contemporâneo.
O ponto de partida do filme de Noé consiste em "encenar" a visão de... um morto. Mais concretamente, o herói de Enter the Void permanece, para além da morte, como uma espécie de olhar angelical que, literalmente, paira sobre a cidade e, em particular, vigia os destinos da sua irmã. É um estratagema sugestivo, mas não passa disso: Noé filma como se tivesse que esgotar todas as piruetas possíveis da câmara, nos interiores, nas ruas, "penetrando" nas zonas mais inesperadas de cenários ou objectos. Pelo caminho, vai dispensando as personagens, reduzidas a figurantes do seu próprio virtuosismo. Ou como se prova que contar uma história é um problema que não se resolve apenas através da "invenção" de um dispositivo técnico.