Entre os nomes que mais contribuiram para a instauração da idade moderna do cinema americano, Dede Allen é um dos mais decisivos: as suas técnicas de montagem, nomeadamente em filmes de Arthur Penn e Sidney Lumet, abriram portas para novas e surpreendentes formas narrativas. É dela a montagem do recente Um Segredo Muito Nosso, de Dennis Lee — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 de Abril).
Nascida em 1925, em Cleveland, Ohio, Dede Allen reaparece na actualidade através do filme Um Segredo Muito Nosso. Alguns dos seus trabalhos de montagem transformaram-na numa personalidade marcante na história do moderno cinema americano, em particular no modo como contribuiu para repensar as regras tradicionais da narrativa e, mais especificamente, da ligação entre imagens (e sons).
Só nos decisivos anos 60, Dede Allen assinou a montagem de títulos como A Vida É um Jogo, de Robert Rossen, América, América, de Elia Kazan, e Bonnie e Clyde [foto em baixo], de Arthur Penn. Os dois primeiros filmes em que colaborou com Sidney Lumet, Serpico (1973) e Um Dia de Cão (1975), podem servir de modelo exemplar da sua dupla estratégia, por um lado alterando a linearidade temporal da narrativa, por outro lado criando novos conceitos de encenação dos gestos humanos e, obviamente, do trabalho dos actores. Ironicamente, Dede Allen é uma das personalidades de Hollywood que nunca teve um Oscar; a Associação de Montadores dos EUA consagrou-a, em 1994, com um prémio de carreira.