Um dos nomes maiores da literatura de ficção científica, J.G. Ballard (1930-2009) morreu ontem, vítima de um cancro diagnosticado há três anos. Na verdade, Ballard gostava mais de ser encarado como alguém que escrevia sobre a psicologia do futuro, a expressão “ficção científica” não lhe parecendo a melhor para descrever a sua obra. Assinou 15 romances e um volume expressivo de contos. Entre os seus títulos mais frequentemente citados contam-se Crash ou Empire Of The Sun, respectivamente levados ao cinema por David Cronenberg e Steven Spielberg, este último revisitando no grande ecrã palavas nascidas de memórias vividas por Ballard nos dias de juventude, em Xangai, durante a invasão japonesa. Em 2008 publicou Miracles Of Life, uma autobiografia. Deixou dois inéditos por publicar, um deles reflectindo sobre a sua relação com a doença e o médico que o acompanhou nos últimos anos.
Além de Crash (1973) ou Empire Of The Sun (1984), entre a sua obra destacam-se ainda títulos como The Drowned World (de 1962, um dos primeiros exemplos de narrativas centradas nas consequências dramáticas de grandes catástrofes ecológicas) ou The Crystal World (de 1966, história de uma outra visão apocalíptica). A sua escrita teve enorme impacte em várias outras figuras e criadores. Na música, por exemplo, teve entre os seus admiradores nomes como os Joy Division (que deram a uma canção, The Atrocity Exhibition, o título de um conto seu) e os Klaxons (que igualmente citaram uma obra de Ballard na hora de escolher nome para o seu primeiro álbum, Myths Of The Near Future). Os álbuns Metamatic (1980), de John Foxx e Replicas (1979), de Gary Numan, revelam também uma admiração pela obra do escritor. Os Manic Street Preachers usaram um sample da voz de Ballard num tema seu. Thom Yorke, dos Radiohead, é um confesso admirador dos seus livros. Em 2002, o conto Low Flying Aircraft teve uma adaptação ao cinema, por Solveig Nordlund, como Aparelho Voador A Baixa Altitude.
Filho de ingleses, Ballard nasceu em Xangai (China) em 1930, num bairro onde então vivia a comunidade internacional residente na cidade. Durante a invasão japonesa passou por campos de concentração. No fim da guerra mudou-se para Inglaterra, preparando-se para estudar medicina, entusiasmado pelas recentes descobertas nas áreas da psiquatria. Um primeiro conto publicado quando estava já na universidade e as palavras de encorajamento para a escrita que então recebeu fizeram-no abandonar o curso pela carreira que então abraçou. Trabalhou em revistas científicas, entusiasmou-se com o movimento da pop art. Contudo, só depois de 1960 passou a viver exclusivamente da escrita.