A estreia de Histórias de Cabaret — no original, Go Go Tales — permite-nos reencontrar a festiva intransigência de Abel Ferrara e do seu cinema não alinhado — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 de Abril), com o título 'A nostalgia já não é o que era'.
Lembremos nomes lendários como Jacques Tourneur, Joseph H. Lewis, Edgar J. Ulmer, Budd Boetticher ou Roger Corman. E estúdios não menos lendários como RKO, Republic ou Monogram. Citá-los é o mesmo que revisitar toda uma paisagem “marginal” das memórias clássicas de Hollywood que entrou para a história sob a designação genérica de série B. Que é como quem diz: pequenos orçamentos, reduzidos períodos de rodagem, vedetas só mesmo por luxo.
Lembremos nomes lendários como Jacques Tourneur, Joseph H. Lewis, Edgar J. Ulmer, Budd Boetticher ou Roger Corman. E estúdios não menos lendários como RKO, Republic ou Monogram. Citá-los é o mesmo que revisitar toda uma paisagem “marginal” das memórias clássicas de Hollywood que entrou para a história sob a designação genérica de série B. Que é como quem diz: pequenos orçamentos, reduzidos períodos de rodagem, vedetas só mesmo por luxo.
Daí a pergunta: por onde anda a herança desse cinema completamente formatado e, ao mesmo tempo, palco de muitas experiências ousadas? Circula pelo labor de cineastas como Abel Ferrara que, em 2007, conseguiu a proeza de fazer Histórias de Cabaret como se fosse uma espécie de cruzamento insólito entre o filme negro e o melodrama dos anos 40, só que filmando em Itália, nos estúdios da Cinecittà...
O resultado possui a fragilidade, mas também a agilidade, do bloco notas de um criador que insiste em não esquecer as glórias da indústria americana, no fundo lamentando que a banalidade de tantas aventuras para o público “adolescente” tenha alienado a crueza existencial, e também a disponibilidade para a ironia, desse cinema de tempos bem remotos. Nostálgico, Ferrara? Sem dúvida. Mas sem pieguice, antes por genuíno espírito de revolta artística.