É uma história que Eça de Queiroz conta entre duas janelas: a de Macário, no seu escritório, e a de Luísa, objecto de ansiosa paixão que vive na casa em frente. E entre duas janelas Manoel de Oliveira a conta, transferindo a acção para o nosso presente, com computadores e tudo. Ao mesmo tempo, num gesto de anacronismo essencial ao discreto humor do seu cinema, Oliveira não "actualiza" a narrativa queiroziana, antes a conserva num esplendoroso primitivismo. Resultado: o texto de Singularidades de uma Rapariga Loura gera um filme de marionetas existenciais vogando no labirinto frágil, porventura inócuo, do impulso amoroso.
É uma admirável continuação das ambivalências romanescas de um cineasta que continua a filmar como se o cinema fosse (e é) uma história sempre em aberto, sempre disponível para a sua decom-posição e paciente reconstrução. Além do mais, os profissionais da difamação continuam a ter a vida difícil: depois dos 68 minutos de Belle Toujours (2006) e dos 75 de Cristóvão Colombo - o Enigma (2007), Oliveira continua a fazer filmes deliciosamente breves, gastando 64 minutos para a sua reinvenção de Eça...
>>> SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA, de Manoel de Oliveira; com Catarina Wallenstein, Ricardo Trêpa, Diogo Dória; estreia: 30 de Abril.
>>> SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA, de Manoel de Oliveira; com Catarina Wallenstein, Ricardo Trêpa, Diogo Dória; estreia: 30 de Abril.