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O percurso recente da dupla electrónica canadiana
Junior Boys chamava, desde há alguns meses, as atenções para aproximação de um novo álbum de originais, o sucessor do magnífico
So This Is Goodbye de 2006 e de espantosas colaborações de Jeremy Greenspan em discos recentes de Morgan Geist. Terceiro álbum que editam com conjunto,
Begone Dull Care chega agora para confirmar, em pleno, as mais esperançadas expectativas que aqui aguardavam mais um capítulo consequente na escrita da história, sempre activa, sempre inventiva, da canção pop. A dupla, de facto, consagra definitivamente em
Begone Dull Care uma personalidade capaz de reinventar, segundo princípios de um presente atento, uma série de heranças fundamentais (e de largo espectro) da história da pop feita com ferramentas electrónicas. Da canção perfeita que é
Dull To Pause à viagem
electro-disco de
Work, o álbum oferece-nos uma galeria pop de espantosa elegância e absoluto sentido de oportunidade. É um disco em tudo elegante, por vezes contido nos temperos, numa dieta que impede a dispersão das formas e reforça a afirmação de uma noção pop indie electrónica contemporânea aqui claramente atingida. E que vinca ainda uma atitude que traduz uma ideia de contemporaneidade que reflecte uma relação saudável com a memória, não apenas nas heranças electrónicas convocadas, mas também na própria escolha de um título que já deu, em tempos, nome a um filme de animação de Norman McLaren (que tinha então música de Oscar Peterson por banda sonora).
Junior Boys
“Begone Dull Care”Domino / Edel
5 / 5Para ouvir:
MySpace
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Três anos depois de
Show Your Bones, os
Yeah Yeah Yeahs voltam a afirmar que sabem ser uma das mais inesperadas bandas da sua geração. Os sons rugosos, ásperos, de alma
punk, que assistiram à sua estreia em inícios da década estão decididamente longe do que se ouve neste novo e entusiasmante
It’s Blitz. A alma
rock’n’roll, o seu sentido de urgência, ainda aqui mora, mas suportam agora um edifício que soube descobrir na pop e no prazer da dança uma nova razão de existir. Como nos Blondie de finais de 70, os também nova iorquinos Yeah Yeah Yeah aprenderam a usar referências e experiências em favor de uma nova demanda. Convenhamos, deram conta do recado. Na verdade o disco nada perde, mas tudo transforma. A voz de Karen O ganha novas sublitelzas, mas não perde intensidade. Nick Zinner alarga o espectro de acção das linguagens eléctricas. E Dave Sitek, dos TV On The Radio, um dos parceiros na mesa de gravação, assegura o eficaz diálogo entre uma alma
rock’n’roll que se não quer abafar e novos trilhos (com electrónicas bem presentes) a desbravar. O soberbo
Zero dá o mote e
Hysteric sublinha a noção de “missão cumprida”. Pelo meio ainda espaço para o tactear de texturas distintas em canções despidas de euforia rítmica, e até mesmo pontuais janelas para memórias mais angulosas de outros tempos. Aos três discos, uma banda ainda em forma!
Yeah Yeah Yeahs
“It’s Blitz!”
Interscope / Universal
4 / 5Para ouvir:
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A ideia não resultou certamente de um acordo com a administração Obama para acertar em cheio com uma agenda que tem o apoio à indústria automóvel norte-americana entre as prioridades neste momento. Mas a verdade é que
Folk In The Road é um disco sobre... automóveis. Sobre a sua relação com quem os usa nos tempos que correm, mas nem por isso deixa de reflectir também sobre os lugares, gentes e situações que podemos depois visitar... O disco foi inspirado pela recente reconversão de um velho Lincoln Continental, de
Neil Young, agora radicalmente transformado para funcionar com energias alternativas. O Lincolnvolt, como lhe chamou, depois de intenso trabalho desenvolvido com um mecânico. Um protótipo desenvolvido a partir de um corpo metálico com 50 anos. Um renascimento com nova energia, portanto... O disco segue o esforço (e as ideias) que a transformação envolveu... Álbum eléctrico, não evita a discussão dos temas e climas que o momento levanta, todavia sem a virulência das canções de
Living With War (de 2006). Esta interessante colecção de dez canções está contudo num comprimento de onda algo distante do pico de forma em regime
folk que nos dera, em 2005, o belíssimo
Prarie Wind.
Neil Young
“Folk In The Road”
Reprise / Warner
3 / 5Para ouvir:
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Com
Two Birds Blessing Francisco Silva soma já quatro álbuns editados como
Old Jerusalem. E com eles garante a solidez de uma linguagem que já deixou bem claro em que espaços quer trilhar o seu caminho. Não esperamos, portanto, atalhos nem desvios... Apenas o continuar de um percurso, desde logo indiciado no álbum de estreia, que segue as sugestões de uma série de cantautores dos nossos tempos, nomeadamente os recorrentemente citados (porque inevitáveis) Will Oldham ou Bill Callahan. Neste quarto disco, porém, sentimos uma discreta (e saudável) vontade em alargar horizontes, que se revela não por quaisquer mudanças no rumo das palavras ou da composição, mas através da presença de uma pequena multidão de convidados, definindo o conjunto um mais amplo e versátil terreno de sons em torno das suas canções. É de facto nos arranjos, com maior curiosidade em saborear estas parcerias, que vibra o que soa a tranquila supresa nas canções de
Two Birds Blessing. De resto mantém-se firme uma escrita que respira hábitos de convívio com livros e uma música que tem genoma definido.
Old Jerusalem
“Two Birds Blessing”
Rastilho Records
3 / 5
Para ouvir:
MySpace
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São um casal canadiano. Um duo ele e ela de marido e mulher. Ele, Dave Broecker, também conhecido pelo trabalho nos Wolf Parade, entregue às guitarras, e ela, Alexei Perry, frente a um teclado, dão aqui corpo a uma ideia distinta da que se escutava num álbum de estreia como
Handsome Furs (
Plague Park, de 2007) de travo mais pastoral. Mais urbano, sombrio, feito de histórias menos claras,
Face Control apresenta uma colecção de canções onde o diálogo entre as guitarras e as electrónicas servem de cenário a um conjunto de pequenas narratrivas que nasceram na sequência de uma viagem à Europa de Leste. A vida nocturna na Rússia dos nossos dias, os códigos de aparência e ecos de histórias vividas (ou escutadas) abriram caminho para a composição de uma série de pequenos retratos para voz, tensão e alma pop. O alinhamento é contudo irregular, ora revelando instantes arrebatadores (como o soberbo single
I’m Confused), outras vezes parecendo caminhar por terrenos herdeiros de tradições FM, nem sempre com os melhores resultados.
Handsome Furs
“Face Control”Sub Pop / Popstock
2 / 5Para ouvir:
MySpaceTambém esta semana:Jon Hassell, Bat For Lashes, Siouxsie & The Banshees (reedições), Nick Cave & The Bad Seeds (reedições), Carole King (reedição), Cliff Richard (B Sides), Ani Rossi, Metric, Papercuts, Madeleine Peyroux, Super Furry Animals, Eddi Reader, Bill Callahan, Calvin Harris, Dimitri From Paris, Paul Oakenfold (best of), Neutral Milk Hotel (reedição)
Brevemente:20 de Abril: Depeche Mode, Big Pink, Art Brut, Tortoise, Jane’s Addiction, Wilco (DVD), Camera Osbcura, Dukes Of Stratosphere (reedições), Björk (DVD), Noisettes, Juan McLean, Handsome Family, Richard Swift, Miss Kittin, Booker T
27 de Abril: Bob Dylan, Os Golpes, Bell Orchestre, Morrissey (reedição), Maximilian Hecker
4 de Maio: Conor Oberst, Fischerspooner, Manic Street Preachers, Maccabees, Thomas Dolby (best of), St Vincent, Kronos Quartet
Maio: Grizzly Bear, John Vanderslice, VV Brown, Maximo Park, Tori Amos, Iggy Pop, Phoenix
Junho: Patrick Wolf, Eels, Iggy Pop, Jeff Buckley, Sonic Youth, Tortoise
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PS. A crítica aos Junior Boys é uma versão editada de um texto publicado na revista NS a 11 de Abril