A velhice das personagens de Clint Eastwood confunde-se com a história do seu próprio envelhecimento. Não que o seu cinema seja autobiográfico, em sentido imediato. Em todo o caso, dir-se-ia que ele vai escolhendo as suas personagens um pouco como quem inscreve no ecrã as marcas do tempo vivido (e filmado). Em Gran Torino, encontramo-lo na pele de Walt Kowalski, um veterano da Guerra da Coreia que começa por não aceitar a transfiguração da sua vizinhança, agora habitada por uma comunidade de origem asiática que, em tudo e por tudo, ele quer evitar. Como um grande épico clássico, a história de Kowalski transfigura-se numa odisseia sobre a redescoberta das identidades e, em última instância, uma amorosa celebração da América e das suas diferenças internas — se John Ford tem um herdeiro que sobreviveu para o século XXI, é aqui que devemos procurá-lo.
>>> Jamie Cullum interpreta a canção Gran Torino (escrita por Clint Eastwood, Jamie Cullum, Kyle Eastwood e Michael Stevens).