O menos que se pode dizer do cartaz de Religulous — entre nós lançado com o título Que o Céu nos Ajude — é que condensa de forma simples e directa a mensagem do seu protagonista, Bill Maher. A saber: todas as religiões são ridículas (fundindo o "reli-gioso" e o "ridículo", o título original poderia dar em português qualquer coisa como 'Religulo').
Quem conheça um pouco do trabalho (excelente) de Bill Maher no campo da stand up comedy não ficará surpreendido (alguns dos seus espectáculos têm passado no canal MOV). Ele possui, de facto, uma visão contundente das crenças religiosas, atribuindo-lhes grandes responsabilidades na infelicidade dos indivíduos, desde os afectos até à vida sexual. Neste filme dirigido por Larry Charles, Maher assume-se, por assim dizer, como repórter da sua própria visão do mundo, dialogando com personagens das mais diversas origens e crenças (católicos, judeus, muçulmanos) para demonstrar a inani-dade que atribui a todos os sentimentos religiosos. E não há dúvida que momentos ridículos não faltam (incluindo uma patética reconstituição, para turistas, do calvário de Cristo...). Mérito do filme, sem dúvida, no sentido em que nos leva a pensar que as questões desencadeadas pelas religiões não podem, nem devem, ser reduzidas ao "invisível" ou "inefável".
Ao mesmo tempo, porém, o filme vai caindo numa facilidade — tam-bém ela profundamente ideológica — que importa questionar. Assim, para Religulous, os valores religiosos seriam tão banais, ou tão irrelevantes, como um produto de "usar-e-deitar-fora". Quer isto dizer que, desde a complexidade das heranças culturais às ex-pressões artísticas que a história da humanidade (religiosa) nos legou, Bill Maher faz tábua rasa de tudo, como se o religioso fosse um factor objectivo, objectivamente descartável.
Por isso, Religulous corre o risco de não satisfazer as exigências intelectuais, quer de religiosos, quer de agnósticos. Faz sentido dizer que é um filme que nos pode ajudar a travar um debate importante e actualíssimo. Mas é também um filme que, sobretudo nos minutos finais, transforma o seu protagonista naquilo mesmo que pretende denunciar: uma personagem que nos vem oferecer um sermão.